Não é de hoje que vivemos mergulhados em uma
sociedade violenta, mas o que é violência e quais as implicações no mundo
globalizado?
Primeiramente é preciso definir quem é vítima de
violência? Basicamente, todos nós somos vítimas, mas alguns são muito mais
afetados por todas as formas de agressão.
O fator econômico-social e o fator
cultural-ético-político age diretamente na interação do indivíduo com a
violência. Em classes sociais menos favorecidas, a violência está mais presente
e em maior intensidade. A violência atinge desde os mais novos até os mais
idosos.
Das várias formas de violência e dos meios pelos
quais ela atinge o cidadão, em que a exposição à violência pode ser direta (por
exemplo, ser vítima de um ato violento) ou indireta (por exemplo, ouvir falar
sobre violência ou testemunhar violência envolvendo outras pessoas); podemos
citar algumas que são (quase) universais:
Começa com o Pai autoritário, com a mãe negligente,
irmãos abusadores e parentes violentos. Brigas e discussões frequentes no lar desde
a tenra infância têm consequências psicológicas que podem ser irreversíveis. A
vítima pode não se recuperar completamente desse trauma. Pode ser a opressão de
status, quando o indivíduo não tem voz e suas opiniões e anseios são
descartados, ou podem ser agressões físicas e/ou sexuais.
O fator econômico, formas de acumulação e
estruturação de classe, são exemplos de desigualdade social. Na política de distribuição de renda e acesso
aos direitos civis, elevação de qualidade de vida, e seus desdobramentos nas
dimensões do emprego, salário, moradia, transporte, segurança, estudo, saúde;
tudo que diz respeito à vida do indivíduo relacionada a esses aspectos,
demonstra o intrincado sistema de relação pessoal de uma sociedade. O fator
cultural-político se refere a um conjunto de ideologias, vícios e
comportamentos reproduzidos socialmente e internalizados nas práticas sociais,
a exemplo da impunidade e descrença com a Justiça; corrupção e crise das
instituições formais de poder do Estado; desvalorização e descrença com a
educação; crise da autoridade familiar; sensação de desprezo em relação aos
direitos e os deveres; e sentimento de “desvinculação social”. (Construção
social da violência e a negação da civilidade - Antonio Mateus de Carvalho
Soares1 - Latitude, Vol. 8, nº 1, pp. 33-62, 2014)
A colocação profissional e a forma como é
reconhecido este profissional revela a opressão interiorizada ao indivíduo de “menor valor”. Ao subjugar o indivíduo e a ação coletiva, geralmente com uso de força
desmedida, o homem perde sua sociabilidade. O trato social que julga os
indivíduos como irresponsáveis, que não considera suas necessidades individuais,
que ignora e não respeita a sua privacidade, e que agride sua integridade
física e moral, é perpetuadora de comportamentos violentos. Classificam os
indivíduos pelas suas opções sexuais, crenças e costumes; evidenciando um grupo
mais ou menos valorizado.
Entidades que agridem a condição humana e os
direitos civis e sociais, não se restringindo apenas às relações de
agressividade e incivilidade entre grupos e indivíduos, mas também a conflitos
nas formas de controle para manter a autoridade e a norma social. Falta de
acesso a serviços básicos como: água potável, sistema de saúde, alimentação
adequada, esportes, lazer e cultura; são formas de violência institucional
(política). Esses recursos de suporte possibilitam diminuir o sofrimento das
pessoas e, por sua vez, diminuir as probabilidades de que se cometa violência. A
falta de representatividade no setor público para que suas necessidades sejam supridas
deixam o cidadão à margem do desenvolvimento social. Este isolamento social é
gerador de conflitos e preconceitos cada vez mais evidentes. Dentro dos meios
de ensino também evidencia a divisão de classes e propiciam comportamentos de bullying e preconceitos.
- Violência Moral
Este tipo pode ser
encontrado em todos os ambientes por consistir em calunia, difamação ou injuria
a honra ou a reputação do indivíduo. Também pode estar nos meios de
comunicação e na mídia, com propagandas enganosas e desinformação que tem o
intuito de levar o cidadão ao erro de julgamento. A banalização da violência
nos meios de comunicação também contribuem para o entorpecimento da empatia.
Todas estas formas de violência em conjunto criam um
universo de consequências depreciativas como a desvalorização, que levam à ideia de impotência e inutilidade. Não raras vezes, o abandono, é um fenômeno crescente
nas sociedades industrializadas.
Estes indivíduos são acometidos de sentimento de
culpa e baixa auto-estima, que também evoluem facilmente para depressão, perturbações
do sono, dependência material e/ou psicológica. Qualquer uma destas formas pode
levar a consequências negativas no desenvolvimento psicofísico, cessando,
impedindo, detendo ou retardando-o.
As vitimas costumam
desenvolver Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), Transtorno
Dissociativo, Transtorno Depressivo Maior, Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) e Transtornos Alimentares (Belsky, 1993; Caminha, 2000a;
Garbarino, et al., 1991);
Ou até distúrbios da personalidade, esquizofrenia, uso
de drogas, comportamento auto lesivo e suicida, somatização, ansiedade e
dissociação.
O homem é o único
primata capaz de matar e torturar membros de sua espécie sem nenhuma razão, por
puro prazer, e tal comportamento faz da violência um fenômeno intrínseco à
condição humana (Erich Fromm, 1975)
O modelo de competição, a vontade de posse, domínio
e poder, recriam o ambiente em que a violência era uma ação de preservação da
existência. O poder das relações sociais potencializa as diferenças que
hierarquizam e discriminam os homens, fortalecem os estigmas e ampliam as
desigualdades sociais. Na sociedade brasileira, as práticas agressivas e hostis,
gera o sentimento de insegurança e medo; reiniciando o ciclo vicioso.
Aceitação e empatia deveriam ser padrões sociais
encorajados e valorizados em um mundo que tem a pretensão de ser civilizado e
evoluído. Em pleno século XXI não é possível aceitar a violência como algo
cotidiano, por simples questão de justiça!
De tanta opressão a sociedade colhe a violência diária.
Fontes
agenciapatriciagalvao.org.br
cut.org.br
datasebrae.com.br
mdh.gov.br
Neurobiología del maltrato infantil: el ‘ciclo de la violencia’ Patricia Mesa-Gresa, Luis Moya-Albiol, 2017
todamateria.com.br
tuasaude.com
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