Mais uma vez, fui traído e enganado pela internet.
Foi publicado em "Pô Bial" (neste blog) um texto atribuído a Luis Fernando Veríssimo, do qual sou fã; mas... não é nada disso, como diz o próprio escritor neste texto publicado no recanto das letras.
A título de informação, para quem não sabe e nem desconfia "Luis Fernando Veríssimo": atacou outra vez e o verdadeiro autor se retratou pela segunda vez: Afinal, quem é o autor? (orkut)
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Outro você - Luis Fernando Veríssimo
E dizem que rola um texto na internet com minha assinatura baixando o pau no “Big Brother Brasil”.
Não fui eu que escrevi.
Não poderia escrever nada sobre o “Big Brother Brasil”, a favor ou contra, porque sou um dos três ou quatro brasileiros que nunca o acompanharam.
O pouco que vi do programa, de passagem, zapeando entre canais, só me deixou perplexo: o que, afinal, atraía tanto as pessoas — além do voyeurismo natural da espécie — numa jaula de gente em exibição?
Falha minha, sem dúvida. Se prestasse mais atenção talvez descobrisse o valor sociológico que, como já ouvi dizerem, redime o programa e explica seu fascínio. Pode ser. Os “Big Brothers” e similares fazem sucesso no mundo todo. Provavelmente eu e os outros três ou quatro resistentes apenas não pegamos o espírito da coisa.
Também me dizem que, além de textos meus que nunca escrevi (como textos igualmente apócrifos do Jabor, da Martha Medeiros e até do Jorge Luís Borges), agora frequento a internet com um Twitter.
Aviso: não tenho Twitter, não receboTwitter, não sei o que é Twitter.
E desautorizo qualquer frase de Twitter atribuída a mim a não ser que ela seja absolutamente genial. Brincadeira, mas já fui obrigado a aceitar a autoria de mais de um texto apócrifo (e agradecer o elogio) para não causar desgosto, ou até revolta. Como a daquela senhora que reagiu com indignação quando eu inventei de dizer que um texto que ela lera não era meu:
— É sim.
— Não, eu acho que...
— É sim senhor!
Concordei que era, para não apanhar. O curioso, e o assustador, é que, em textos de outros com sua assinatura e em Twitters falsos, você passa a ter uma vida paralela dentro das fronteiras infinitas da internet.
É outro você, um fantasma eletrônico com opiniões próprias, muitas vezes antagônicas, sobre o qual você não tem nenhum controle,
— Olha, adorei o que você escreveu sobre o “Big Brother”. É isso aí!
— Não fui eu que...
— Foi sim!
(4.4.2010)
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VERISSIMO - Não é meu
Tenha paciência, este parágrafo começa com Leon Trotsky mas acaba nas peladas da Playboy. Quando Trotsky caiu em desgraça na União Soviética sua imagem foi literalmente apagada de fotografias dos líderes da revolução, dando início a uma transformação também revolucionária do conceito de fotografia: além de tirar o retrato de alguém, tornou-se possível tirar alguém do retrato. A técnica usada para eliminar o Trotsky das fotos foi quase tão grosseira – comparada com o que se faz hoje – quanto a técnica usada para eliminar o Trotsky em pessoa (um picaretaço, a mando do Stalin). Hoje não só se apaga como se acrescenta pessoas ou se altera suas feições, sua idade e sua quantidade de cabelo e de roupa, em qualquer imagem gravada. A frase “prova fotográfica” foi desmoralizada para sempre, agora que você pode provar qualquer coisa fotograficamente. Existe até uma técnica para retocar a imagem em movimento, e atrizes preocupadas com suas rugas ou manchas não precisam mais carregar na maquiagem convencional – sua maquiagem é feita eletronicamente, no ar. Nossas atrizes rejuvenescem a olhos vistos a cada nova novela. E quem posa nua para a Playboy ou similar não precisa mais encolher a barriga ou tentar esconder suas imperfeições.
O fotoshop faz isso por ela. O fotoshop é um revisor da Natureza. Lembro quando não existia fotoshop e recorriam à pistola, um borrifador à pressão de tinta, para retocar as imagens. Nas Playboys antigas a pistola era usada principalmente para esconder os pelos pubianos das moças, que desapareciam como se nunca tivessem estado ali, como o Trotsky. Imagino que a pistola tenha se juntado à Rolleiflex no sótão da História.
Se a prova fotográfica não vale mais nada nestes novos tempos inconfiáveis, a assinatura muito menos. Textos assinados pela Martha Medeiros, pelo Jabor, por mim e por outros, e até pelo Jorge Luis Borges, que nenhum de nós escreveu – a não ser que o Borges esteja mandando matérias da sua biblioteca sideral sem que a gente saiba – rolam na internet, e não se pode fazer nada a respeito a não ser negar a autoria – ou aceitar os elogios, se for o caso. Agora mesmo está circulando um texto atacando o Big Brother Brasil, com a minha assinatura, que não é meu. Isso tem se repetido tanto que já começo a me olhar no espelho todas as manhãs com alguma desconfiança. Esse cara sou eu mesmo? E se eu estiver fazendo a barba e escovando os dentes de um impostor, de um eu apócrifo? E – meu Deus – se esta crônica não for minha e sim dele?!
Luis Fernando Verissimo
Crônica de domingo, no jornal: O Globo, dia 30.01.2011
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TEXTO DO BBB NÃO É DE LUIS FERNANDO VERISSIMO
AQUI, o possível escritor do texto que vem sendo repassado com o nome de Verissimo:
http://www.jornalcorreiodosul.com.br/imprimir.asp?id_noticia=4916
REPASSE COM PESQUISA
Consulte a listas de textos falsos atribuídos a LFV
http://www.rosangelaliberti.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=147039
(ilustração recolhida na net)
Rosangela Aliberti
Enviado por Rosangela Aliberti em 03/02/2011
Reeditado em 06/04/2012
Código do texto: T2769967
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O Externauta também já está sendo copiado, sabia?
Existe outro externauta, que tem até twitter!
Agradeço a homenagem, mas O Externauta só tem um, pergunte ao meu analista...
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