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domingo, 26 de janeiro de 2020

Luiz Gama




Luís Gonzaga Pinto da Gama, rábula, orador, jornalista, escritor, advogado, Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil
Em nós, até a cor é um defeito.

Um imperdoável mal de nascença,
o estigma de um crime.

Mas nossos críticos se esquecem

que essa cor, é a origem da riqueza
de milhares de ladrões que nos
insultam; que essa cor convencional
da escravidão tão semelhante
à da terra, abriga sob sua superfície
escura, vulcões, onde arde
o fogo sagrado da liberdade.


(Luiz Gama)



O baiano Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu na cidade de Salvador-BA de 1830. Filho de Luíza Mahin, negra livre, vinda da Costa da Mina (Nagô de Nação), pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Era baixa de estatura, magra e bonita. Sua cor era de um preto retinto e sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, insofrida e vingativa. Luíza ganhava a vida fazendo quitandas; muito laboriosa, foi presa como suspeita de envolver-se em planos de insurreições de escravos. Em 1837, depois da Revolução “Sabinada”, veio ao Rio de Janeiro e nunca mais voltou. Seu pai, era um fidalgo português; homem de posses, apaixonado pela pesca, pela caça, apreciador de bons cavalos; jogava bem as armas, e muito melhor de baralho, amava as súcias e os divertimentos: esbanjou uma boa herança, obtida de uma tia em 1836 (ou 1838); e reduzido a pobreza extrema em pouco tempo. Em novembro de 1838, quando estava com apenas dez anos de idade, Luís foi vendido pelo próprio pai como escravo para quitar uma dívida de jogo. 

Foi levado a bordo do navio “Saraiva”, e dias depois, ao desembarcar no Rio de Janeiro, foi levado para a casa de um negociante português. No mês seguinte, foi novamente vendido, junto com um lote de “cento e tantos escravos”, ao “negociante e contrabandista” Antônio Pereira Cardoso, que os levou para São Paulo. Os escravos vindos da Bahia eram tidos como “desordeiros” e “revolucionários”, devido ao marco histórico que foi a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador em 1835, da qual a mãe de Gama, Luiza Mahin, teria participado. Sendo assim, permaneceu na casa do senhor Cardoso, onde foi encarregado dos serviços domésticos, tendo aprendido com outro escravo, também baiano, o ofício de sapateiro. Contrariando o destino imposto pela escravidão, Luiz Gama foi o primeiro e único escravo brasileiro a conquistar a própria liberdade.

Luiz Gama só foi alfabetizado aos 17 anos, por um hóspede que viera de Campinas para a capital, com o objetivo de estudar.

Em 1848, Gama fugiu da casa de seus senhores, e tendo conseguido documentos que confirmavam a sua liberdade. Já em 1850 tentou frequentar o curso de Direito, na Faculdade do Largo de São Francisco mas foi hostilizado, permanecendo como ouvinte, resignou-se a frequentar a biblioteca e tornou-se advogado autodidata.

"Foi o maior advogado da história do Brasil, por conta de sua trajetória, de seu brilhantismo. Era um sujeito que demonstrava capacidade e manejo da tecnicalidade do Direito que são impressionantes até hoje", elogia o jurista Silvio Luiz de Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama e professor de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Luís Gonzaga Pinto da Gama, rábula, orador, jornalista, escritor, advogado, Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil
Sua luta vai além do combate à escravidão; abrangendo a proteção da liberdade do indivíduo. Com sua oratória impecável – segundo relatos -, lutou e ganhou a causa da libertação de mais de 500 escravos, sem cobrar nada em solidariedade aos clientes.

“Eu advogo de graça, por dedicação sincera à causa dos desgraçados; não pretendo lucros, não temo represálias”. (Correio Paulistano, 20 de nov. de 1869).

Lutou nas cortes provincianas para estabelecer o princípio de que todos os escravos ingressos no país após a proibição do tráfico negreiro, em 1850, eram livres por lei. Considerava legítima a defesa dos crimes cometidos por escravos contra seus senhores. Mesmo debilitado pela doença, saía carregado em uma maca, para atender seus clientes desejosos da liberdade.

O ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior define o ex-escravo como "o negro mais importante do século 19".

Foi soldado da força pública durante seis anos e nesse período trabalhava como copista para o Major Benedito Antônio Coelho Neto. Em 1854, ficou preso por 39 dias por ato de insubordinação porque ameaçou “um oficial insolente” que lhe insultara.

Em 1856, foi nomeado amanuense da Secretaria da Polícia (escrivão), até 1868, quando foi demitido por “bem do serviço público”. Ele fundou dois jornais que circularam na época: primeiro o Diabo Coxo, de 1864, e dois anos mais tarde o Cabrião.

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Em 1859, aos 29 anos, já era autor consagrado. Aprendiz de tipógrafo do jornal O Ipiranga, em 1869 fundou o jornal liberal “O Radical Paulistano”, no qual expunha e denunciava sentenças equivocadas e erros de juízes conservadores e corruptos. Foi ainda responsável pela redação de “O Polichinelo” – primeiro periódico político satírico da cidade de São Paulo. Ocupou funções de tipógrafo e de redator. Também se atreveu a escrever e publicar versos, muitos deles abolicionistas. Usava pseudônimos, como Getúlio, Getulino e Barrabaz.

Luís Gonzaga Pinto da Gama, rábula, orador, jornalista, escritor, advogado, Patrono da Abolição da Escravidão do BrasilGama tornou-se o primeiro escritor brasileiro a assumir explicitamente sua identidade negra, sendo assim o fundador da literatura de militância dos negros no Brasil.

Sua primeira biografia ter sido publicada no Almanaque Literário de São Paulo com Gama ainda vivo. O texto foi assinado por Lúcio de Mendonça, jornalista, escritor e fundador da Academia Brasileira de Letras.

Luiz Gama faleceu em 24 de agosto de 1882, aos 52 anos devido a complicações do diabetes. sendo sepultado no Cemitério da Consolação diante de um cortejo de 3 mil pessoas. Na época, São Paulo tinha 40 mil habitantes.

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Túmulo no Cemitério da Consolação-SP
Rua 12 - Terreno 17
Quase seis anos mais tarde, em 13 de maio de 1888, a princesa regente Isabel (1846-1921) sancionou a Lei Áurea, proibindo o regime de escravidão no Brasil, em cerimônia no parlamento que excluiu o nome de vários abolicionistas negros para criar a imagem de “Princesa Isabel” como idealizadora da abolição.

Em seguida à Abolição, foi fundada pelo maçom paulistano Góes e colaboração de irmãos das lojas Trabalho e Ordem e Progresso a Loja Luís Gama, com a iniciação de 25 negros. Sua memória é celebrada por associações negras e pela maçonaria, que garantiu que o nome Gama batizasse ruas e avenidas pelo Brasil.


HOMENAGENS

  • Em sua homenagem, em 1919, a Estrada de Ferro Sorocabana (atual FEPASA) nomeou uma de suas estações.
  • 1930 - Um busto é erguido à sua memória no Largo do Arouche, em São Paulo
  • Em 2015, 133 anos após a sua morte, Luis Gama recebeu da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o título de advogado.
  • Em janeiro de 2018, seu nome entrou para o Livro dos Heróis da Pátria.
  • Maio de 2018 foi inaugurada, no Auditório Wladimir Herzog, uma placa de honra ao mérito com o objetivo de assinalar o reconhecimento de Luiz Gama como jornalista atuante em São Paulo.

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PUBLICAÇÕES

Obra individual

- Primeiras trovas burlescas de Getulino. São Paulo: Tipografia Dois de Dezembro, 1859. (Baixe aqui em PDF – Domínio Público)

- “Com A Palavra: Luiz Gama” reúne poemas, artigos, cartas e escritos diversos do advogado.


ANTOLOGIAS

- A razão da chama: antologia de poetas negros brasileiros. Organização de Oswaldo de Camargo. São Paulo: GRD, 1986.

- O negro em versos: antologia da poesia negra brasileira. Organização de Luiz Carlos Santos, Maria Galas e Ulisses Tavares. São Paulo: Moderna, 2005.

- Antologia de poesia afro-brasileira: 150 anos de consciência negra no Brasil. Organização de Zilá Bernd. Belo Horizonte: Mazza edições, 2011.

- Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Vol. 1, Precursores. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

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TEXTOS







CRÍTICA








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Fontes: 

AZEVEDO, Elciene. Orfeu de carapinha: a trajetória de Luiz Gama na imperial cidade de São Paulo. Campinas, SP: Editora da Unicamp / Centro de Pesquisa em História Social da Cultura, 1999. 
BASTIDE, Roger. A poesia Afro-brasileira. 1943
BERN, Zilá. Poesia negra brasileira: antologia. Porto Alegre: AGE, IEL, Igel, 1992. 
BRANDÃO, Roberto de Oliveira. "A poesia satírica de Luis Gama”. In Boletim bibliográfico Biblioteca Mário de Andrade. V. 49, n. 1/4, jan./dez. 1988.
CÂMARA, Nelson. O advogado dos escravos - Luis Gama. São Paulo: lettera 
CAMPOS, Maria Consuelo Cunha. Luiz Gama. In DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Vol. 1, Precursores. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
ebiografia.com/luiz_gama/
FARIA, Alberto. “Luiz Gama” In: Revista Academia Brasileira de Letras, n. 67, julho 1927.
FAUSTO, Boris (1994). História do Brasil. São Paulo: Edusp. p. 219. ISBN 9788531402401
Ligia Fonseca Ferreira (2007). «Luís Gama: um abolicionista leitor de Renan». Estudos Avançados, vol.21 no.60 São Paulo. 
GAMA, Luís. Primeiras Trovas Burlescas e Outros Poemas. Domínio Público.
GOES, F. Luiz Gama. Trovas burlescas e escritos em prosa. São Paulo: Edições Cultura, 1944. 
LESSA, Orígenes. Inácio da Catingueira e Luiz Gama: dois poetas negros contra o racismo dos mestiços. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1982. 
LUNA, Luís. O negro na luta contra a escravidão. Rio de Janeiro: Editora Cátedra-MEC, 1976. 
MARTINS, H. "Luiz Gama e a consciência negra na literatura", Afro-Ásia, Salvador, nº 17, p. 87-97, 1996. 
MENUCCI, Sud. “A carta abolicionista de Luiz Gama a Lúcio de Mendonça”, em O precursor do abolicionismo no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1938. 
MENUCCI, Sud. O precursor do Abolicionismo no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1938. 
NASCIMENTO, Elisa Larkin. Dois negros libertários: Luiz Gama e Abdias do nascimento. Rio de Janeiro: IPEAFRO, 1985. 
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SILVA, J. Romão. Luís da Gama e suas Poesias Satíricas. Rio de Janeiro: Ed. Casa do Estudante do Brasil.