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segunda-feira, 15 de abril de 2024

Arte na pele

Se existe uma forma de arte que literalmente se torna parte de quem a carrega, essa é a tatuagem. Mais do que simples desenhos gravados na pele, as tatuagens são expressões profundas da individualidade e criatividade humanas.

As tatuagens não são uma moda passageira; na verdade, elas têm uma história tão antiga quanto a humanidade. Desde tempos imemoriais, as culturas ao redor do mundo têm utilizado a prática da tatuagem para marcar rituais, expressar identidade e adornar o corpo. Das tribos ancestrais às civilizações antigas, as tatuagens têm desempenhado papéis diversos, desde símbolos de status até amuletos de proteção. A descoberta de múmias tatuadas lançou uma nova luz sobre essa forma de arte corporal em culturas antigas. Desde múmias do Antigo Egito até povos pré-colombianos nas Américas.


Whang Od
Apo Whang-Od, tatuadora indígena de 106 anos

A preservação das tatuagens ao longo dos séculos é um testemunho da habilidade técnica dos antigos tatuadores. No entanto, a interpretação das tatuagens e de seu significado cultural muitas vezes permanece como um quebra-cabeça a ser desvendado.

Aqui estão algumas das tribos antigas conhecidas por suas práticas de tatuagem:

Tribos Polinésias: As tribos polinésias, incluindo os maori da Nova Zelândia, os samoanos, os havaianos e os tahitianos, são conhecidas por suas elaboradas e significativas tatuagens. Na cultura maori, por exemplo, as tatuagens faciais, conhecidas como "moko", eram uma forma de identificação tribal, status social e linhagem ancestral.

Tribos Celtas: Os celtas, que habitavam partes da Europa Ocidental e Central, eram conhecidos por suas tatuagens intrincadas. Eles acreditavam que as tatuagens conferiam proteção e poder espiritual. Símbolos como nós celtas, animais e motivos geométricos eram comuns em suas tatuagens.

indígenas no Brasil
Tribos Indígenas das Américas: Diversas tribos indígenas das Américas praticavam a tatuagem, incluindo os astecas, os maias, os incas e várias tribos nativas americanas. As tatuagens nessas culturas muitas vezes tinham significados religiosos, rituais de passagem, identificação tribal e proteção espiritual.

Tribos Africanas: Em várias partes da África, as tribos indígenas também praticavam a tatuagem. Por exemplo, as tribos berberes do norte da África tinham tradições de tatuagem que remontam a milhares de anos. As tatuagens entre as tribos africanas muitas vezes representavam identidade étnica, status social, proteção espiritual e rituais de passagem.

Tribos Nativas da Oceania: Além das tribos polinésias, outras tribos nativas da Oceania, como os aborígenes australianos e os povos das ilhas do Pacífico, também praticavam a tatuagem. Suas tatuagens frequentemente retratavam símbolos culturais, histórias de clãs e conexões com a terra e a natureza.

Cada tatuagem conta uma história, seja ela visível ou oculta. Para muitos, as tatuagens são mais do que apenas arte decorativa; são símbolos carregados de significado pessoal. Desde homenagens a entes queridos até representações de crenças espirituais ou filosofias de vida, as tatuagens podem ser portadoras de emoções profundas e memórias duradouras.

Com o passar dos anos, a arte da tatuagem passou, como toda cultura viva, por uma evolução. O que antes era considerado marginal ou associado a determinados grupos sociais, agora se tornou uma forma de expressão da arte. Avanços na tecnologia e na técnica permitiram que os artistas criassem tatuagens ainda mais intrincadas e detalhadas.

Existem vários estilos de tatuagem como o Tradicional (ou Old School), Realista, Aquarela, Preto e Cinza, Geométrico, Neo-tradicional, Fineline, Tribal etc. Esta diversidade é uma das maravilhas da tatuagem. Das linhas finas e detalhes delicados do estilo minimalista às cores vibrantes e imagens surreais, há uma infinidade de estilos e técnicas para explorar. Cada tatuador adiciona sua própria interpretação e criatividade a cada obra de arte na pele.

A relação entre tatuagem e crime é um estereótipo que tem raízes históricas, mas é importante abordá-lo com cuidado e considerar o contexto cultural, social e individual. Ao longo da história, as tatuagens foram associadas a gangues, prisões e comunidades criminosas. No entanto, é importante lembrar que a maioria das pessoas com tatuagens não está envolvida em atividades criminosas.


É certo que as tatuagens podem servir como sinais de afiliação a grupos criminosos ou organizações clandestinas. Essas tatuagens muitas vezes contêm símbolos, números ou palavras que representam lealdade a um grupo específico. Em alguns sistemas prisionais, as tatuagens têm sido usadas como forma de identificar uma filiação ou para marcar crimes específicos cometidos por um indivíduo. Mas é importante desafiar os estereótipos associados às tatuagens e reconhecer que elas são uma forma válida de expressão pessoal. Para alguns, são uma forma de celebrar a individualidade; para outros, são uma maneira de eternizar momentos significativos. Seja qual for o motivo, o poder das tatuagens de contar histórias e conectar pessoas é inegável.

As tatuagens continuam a desafiar convenções e a redefinir os limites da expressão artística. Então, da próxima vez que você encontrar alguém com uma tatuagem, lembre-se de que por trás da tinta há uma narrativa esperando para ser descoberta.

O preconceito contra pessoas tatuadas pode ser prejudicial e injusto, perpetuando ideias equivocadas sobre quem são essas pessoas e suas intenções. Inicialmente, a lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997 foi elaborada para a punição de crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, e ficou conhecida como lei do racismo, mas, acrescentou os termos etnia, religião e procedência nacional, e ampliou a proteção da lei para vários tipos de intolerância. No seu Artigo 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa. Mas a interpretação da lei pode se estender para aspectos físicos, modo de vestir, preferencias etc.




Referências:
  1. www.amotatuagem.com
  2. www.cursoenemgratuito.com.br
  3. www.escolakids.uol.com.br
  4. www.historiadomundo.com.br
  5. www.hotcourses.com.br
  6. www.infoescola.com
  7. www.nationalgeographicbrasil.com
  8. www.super.abril.com.br
  9. www.tjdft.jus.br
  10. www.todamateria.com.br

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Então, é Natal?


    Neste Natal vi algumas postagens associando a celebração do Natal com um conjunto de mitos pagãos e à divindade Mitra ou Deus Sol; e resolvi pesquisar um pouco (bem pouquinho) a respeito. Basta um pouco de boa vontade para perceber que estas associações são enganosas, ou mesmo, de má fé.

    Não, não critique ainda. Vamos verificar alguns fatos para admitir a consistência destas postagens.

    Logo de início estas postagens identificam o deus Mitra como o deus Sol Invicto. 


    Na verdade, Mitra está associada a divindade do sol, mas originalmente distinta dele, a princípio, como senhor dos elementos; e somente por volta do século V a.C. sob a forma definitiva do deus solar. Neste ponto não existe entendimento entre os pesquisadores, sendo esta teoria a mais aceita. Era associado ao deus grego Hélio.


    Também era associado ao deus Marte, deus da guerra e da carnificina, mas principalmente da agricultura, colheita, dos campos, da vegetação, sendo assim, sempre relacionado com a fertilidade. Também era um deus do trabalho manual e confeccionador de armas. Pensa-se que Marte trata-se de um reflexo do deus proto-indo-europeu Perkwunos, que também produziu o Thor nórdico. Ou seja, existe uma confusão entre os deuses Mitra, Marte e Thor; representados cada um em uma região, mas com os mesmos atributos.


    Em seguida, as postagens informam que Mitra nasceu de uma virgem.


    Não há nenhuma fonte que afirme tal coisa. Na mitologia indo-iraniana (original - divindade zoroastrista (yazata)) Mitra nasceu perto de uma fonte sagrada, debaixo de uma árvore sagrada, a partir de uma rocha (a petra generatrix; Mitra é, por isso, denominado de petra natus). 


    Logo após, diz que ele foi visitado por reis magos e adorado por pastores.


Mitologia  indo-ariana
Mitra - divindade da sabedoria
    Trata-se de pura especulação, sem base histórica que a sustente; afirma Joelza Ester Domingues, historiadora, pesquisadora e assessora de conteúdo da BNCC. Nesta linha de pensamento, afirma-se que no mitraísmo, haveria prática de acender velas, tocar sinos, cantar hinos e praticar uma refeição ritual de pão e vinho. Mitra seria filho do deus supremo Ahura-Mazda e de uma mulher mortal, assim como Cristo, possuindo uma origem paterna divina e uma origem materna humana. Não há qualquer evidência que confirme qualquer uma destas especulações.


     Afirmam ainda que Mitra morreu em cima de uma pedra e ressuscitou no terceiro dia.

    

    Especulam que Mitra teve doze discípulos, foi “crucificado”, ressuscitou no terceiro dia e prometeu retornar no juízo final. Também não há qualquer evidência que confirme qualquer uma destas especulações. Na verdade, na ritualística romana, Mitra sacrifica um touro em cima de uma pedra; a morte do touro representaria a Lua; e compartilha um banquete com o deus Sol (o Sol Invicto), mais uma prova de que Mitra e Sol (Hélio) são duas divindades distintas.


    Sabe-se ainda que, a maioria das evidências apontam que o Mitraismo veio no segundo, terceiro e quarto século depois de Cristo.


    Nesta mesma postagem, é possível identificar uma mistura da mitologia de Mitra com a mitologia de Hórus. Vejam só:

Mitologia egípcia
Hórus - deus dos céus e dos vivos

    Dizem que, na mitologia egípcia, Hórus nasceu de Isis, uma virgem, no dia 25 de Dezembro, tinha um pai chamado Seb; que é traduzido para José; foi batizado por Anup Batista, tinha 12 discípulos, foi crucificado e ressuscitou depois de três dias.    

O primeiro erro é que as fontes antigas relatam que Ísis não era virgem e era casada com Osíris; e acredita-se que Hórus nasceu no mês de Khoiak (Novembro). Falaremos disso mais adiante.


    Seb era o deus egípcio da terra e Anup Batista (uma invenção de Gerald Massey) é desconhecido pelos egiptólogos , além disso, a única referência de discipulado de Hórus diz que ele tinha 4 discípulos. Não foi crucificado. Osíris foi traído e morto por seu irmão Seth […] e depois Isis junta seus pedaços para que ele fosse a primeira múmia e ressuscitasse.

Quanto a Mitra, além de ser confundido com Hélio, Marte e Hórus, também deu origem (talvez) ao buda Maitreya, que em sânscrito significa "o amistoso".


Budismo
Maitreia ou Maitria (Buda)
    Concluem afirmando que o dia 25 de dezembro era o dia de adoração ao deus sol, que foi incorporado no culto cristão.


    Na verdade, foi o contrário, já que a festividade pagã do “Nascimento do Sol Invicto”, foi instituída pelo imperador Aureliano em 25 de dezembro de 274; em uma data que já gozava de certa importância para os cristãos romanos. è pois, mais um mito sem fundamento histórico.


    Existiam dois templos do sol em Roma. Um deles celebrava sua festividade de consagração em 9 de agosto; e o outro, em 28 de agosto; e nenhum destes cultos tinham festivais relacionados com solstícios ou equinócios.


    Finalizo este pequeno ensaio com mais algumas informações pertinentes.


    Existia uma crença entre os cristãos convertidos do judaísmo de que os grandes profetas morreram na mesma data em que haviam sido concebidos. Pela diversidade dos calendários judeus e romanos, chegou-se à conclusão que Cristo morto num 25 de março ou num 6 de abril, em plena Páscoa judaica. Tendo sido concebido em uma destas datas, mais nove meses de gestação, seu nascimento seria 25 de dezembro ou 6 de janeiro. Esta data foi estabelecida por Sexto Júlio Africano, escritor cristão, no ano de 221 d.c. meio-século antes de Aureliano ter criado a festa do Sol invicto.


    Outras pesquisas também confirmam que muito daquilo que se atribui aos mitos “mais antigos” do que o Cristianismo não possuem confirmação histórica; e tantas outras são completas adulterações tardias dos mitos antigos. Veja alguns exemplos:

  
Mitologia
Amuleto de Orfeu
  • Baco Dionísio transformando água em vinho vem de um documento do segundo século;

  • O amuleto chamado O Amuleto de Orfeu, que supostamente mostra Dionísio crucificado, é uma fraude criada no século XX;

  • Dizem que Krishna era chamada de Jezeus por seus discípulos. Comprovadamente uma fraude moderna;

  • A ressurreição de Attis vem de muito depois do primeiro século;

  • Adônis também vem de mais de cem anos depois de Jesus.


    Todo homem tem o direito de acreditar naquilo que melhor lhe convier, mas é preciso um pouco de atenção para não difundir inverdades e falsos conceitos sobre qualquer tema.


    Feliz natal e um próspero ano novo!


Presépio




Fontes:


ALVES, Leonardo Marcondes. O culto de Mitra e sua pesquisa acadêmica. Ensaios e notas, 2018. 


CLAUSS, Manfred. The Roman Cult of Mithras: The God and His Mysteries. Edinburgh, 2000.


DOMINGUES, Joelza Ester. Mitra, o Sol Invicto e o nascimento de Jesus, 2022. Disponível em https://ensinarhistoria.com.br. Acesso em 27 de Dezembro de 2022.


ELIADE, Mircea; COULINO, Ioan P. Dicionário das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1995.


JOSEPH, Campbell. As máscaras de Deus: mitologia ocidental, tradução de Carmen Fischer. São Paulo: Palas Athena, 2004.


SPALDING, Tassilo Orpheu. Dicionário de Mitologia germânica, eslava, persa, indiana, chinesa, japonesa. São Paulo: Cultrix, 1980. 



TALLEY, Thomas J. , The Origins of the Liturgical Year. Liturgical Press, 1991. Disponível em https://institutosantoatanasio.org/. Acesso em 28 de Dezembro de 2022.


WILKINSON, P. O livro ilustrado da mitologia: lendas e histórias fabulosas sobre grandes heróis e deuses do mundo inteiro. São Paulo. Publifolha. 2002.