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sábado, 23 de abril de 2016

Impossível


José Joaquim Cesário Verde foi um poeta português considerado um dos pioneiros da poesia moderna.



poeta portugues, modernismoFilho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de sua mulher Maria da Piedade David dos Santos, Cesário nasceu em 25 de Fevereiro de 1855 em Lisboa. Aos 18 anos matriculou-se no Curso Superior de Letras, foi quando conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias publicadas em jornais e revistas, e as atividades de comerciante herdadas do pai.

Em 1877 começou a ter sintomas de tuberculose, vindo a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde, compilação da sua poesia publicada em 1901.

A observação das situações do quotidiano é o ponto de partida preferencial para os poemas de Cesário Verde. É o mundo real, rotineiro, que é retratado e analisado, servindo de suporte às ideias e sentimentos do poeta. Com vocabulário objetivo; imagens extremamente visuais de modo a dar uma dimensão realista do mundo; descritivo; misturando o físico e o moral; combinando sensações; Ele usa sinestesias, metáforas, comparações; torna seu trabalho um marco histórico na poesia portuguesa e mundial.

Curta aí:

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Impossível

Nós podemos viver alegremente,
Sem que venham com fórmulas legais,
Unir as nossas mãos, eternamente,
As mãos sacerdotais.

Eu posso ver os ombros teus desnudos,
Palpá-los, contemplar-lhes a brancura,
E até beijar teus olhos tão ramudos,
Cor de azeitona escura.

Eu posso, se quiser, cheio de manha,
Sondar, quando vestida, pra dar fé,
A tua camisinha de bretanha,
Ornada de crochet.

Posso sentir-te em fogo, escandescida,
De faces cor-de-rosa e vermelhão,
Junto a mim, com langor, entredormida,
Nas noites de verão.

Eu posso, com valor que nada teme,
Contigo preparar lautos festins,
E ajudar-te a fazer o leite-creme,
E os mélicos pudins.

Eu tudo posso dar-te, tudo, tudo,
Dar-te a vida, o calor, dar-te cognac,
Hinos de amor, vestidos de veludo,
E botas de duraque

E até posso com ar de rei, que o sou!
Dar-te cautelas brancas, minha rola,
Da grande loteria que passou,
Da boa, da espanhola,

Já vês, pois, que podemos viver juntos,
Nos mesmos aposentos confortáveis,
Comer dos mesmos bolos e presuntos,
E rir dos miseráveis.

Nós podemos, nós dois, por nossa sina,
Quando o Sol é mais rúbido e escarlate,
Beber na mesma chávena da China,
O nosso chocolate.

E podemos até, noites amadas!
Dormir juntos dum modo galhofeiro,
Com as nossas cabeças repousadas,
No mesmo travesseiro.

Posso ser teu amigo até à morte,
Sumamente amigo! Mas por lei,
Ligar a minha sorte à tua sorte,
Eu nunca poderei!

Eu posso amar-te como o Dante amou,
Seguir-te sempre como a luz ao raio,
Mas ir, contigo, à igreja, isso não vou,
Lá essa é que eu não caio!

Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'

fuga, fugir, não caso



fontes www.citador.pt 
www.google.com.br
https://pt.wikipedia.org