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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Valongo e os Pretos Novos


O cais do Valongo e o Cemitério dos Pretos Novos na cidade do Rio de janeiro é uma parte da história que não podemos ignorar, esquecer ou apagar. São relatos de uma época desumana.

Com a descoberta (?!?!) de uma nova terra, o comércio de escravos passou a ser parte fundamental da economia, e este comércio é base de nossa nação. Com a criação da cidade do Rio de Janeiro, seu porto passou a ser o principal local de desembarque e comercio de escravos.

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Até meados da década de 1770, os escravizados desembarcavam na Praia do Peixe (hoje Praça XV), e eram negociados na Rua Direita (hoje Rua 1º de Março), no centro do Rio de Janeiro. Na praia do Peixe, vários “escravos de ganho” comiam angu preparado em algumas casa da região e vendido pelas Anguzeiras ao custo de 1 vintém a colherada. Daí a origem do nome Zungú – da língua do Congo – Nizi Angu ou casa de angu - usada pelos escravos para designar esta região da cidade.
Em 1774,  Marquês de Lavradio, Dom Luís de Almeida Portugal Soares de Alarcão d'Eça e Melo Silva Mascarenhas, vice-rei do Brasil, alarmado com "o terrível costume de tão logo os pretos desembarcarem no porto vindos da costa africana, entrarem na cidade através das principais vias públicas, não apenas carregados de inúmeras doenças, mas nus", estabeleceu a transferência desse mercado para a região do Valongo;  que era desabitada na época e o acesso era difícil, com isso, o aumento do tráfego ficava mais escondido do resto da cidade.

O mercado foi transferido, mas não havia o ancoradouro, e a alternativa encontrada foi desembarcar os escravizados na alfândega e imediatamente enviá-los de bote ao Valongo, de onde saltariam diretamente na praia. Com a construção do cais, o desembarque passa a ser feito diretamente no Valongo, e principalmente, longe dos olhos da aristocracia branca.

A partir de 1808 o tráfico quase dobra, acompanhando o crescimento da cidade devido a chegada da família real portuguesa após a transferência da corte para o Brasil. A cidade do Rio de Janeiro passa de 15 mil para 30 mil habitantes em aproximadamente uma década.

Cais, História, Rio de Janeiro, Escravidão, Unesco, PatrimônioNo fim dos anos 1820, o tráfico de escravizados para o Brasil vive o seu apogeu. O Valongo era a principal porta de entrada dos negros vindos de Angola, da África Oriental e Centro-Ocidental, entre 500 mil e um milhão de escravizados desembarcaram no cais, cerca de 40% dos escravos trazidos para as Américas. Algumas fontes dizem que foram mais de 2 milhões!!

Quando o tráfico negreiro para o Brasil foi proibido, passando a ser feito clandestinamente, nessa época o tráfego passa a acontecer no período noturno.

Aquela região, mais do que o cais, era um complexo de escravos, que incluía o lazareto, para onde os negros que chegavam doentes iam se curar ou morrer, o Cemitério dos Pretos Novos e os armazéns de engorda e venda dos escravos, que se concentravam na Rua do Valongo, atual Rua Camerino”, diz Tânia Andrade Lima, arqueóloga do Museu Nacional que supervisionou as obras no Porto Maravilha.


Em 1843, o cais foi reformado para o desembarque da princesa Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, que viria a se casar com o imperador D. Pedro II. Foi feito um aterro de 60 centímetros de espessura sobre o cais e o atracadouro passou então a chamar-se Cais da Imperatriz. 

No início do século XX o cais foi soterrado por uma reforma urbana, mais precisamente em 1911, obra feita pelo prefeito Pereira Passos. Esta iniciativa deslocou os segregados para a periferia da cidade.

Cais, História, Rio de Janeiro, Escravidão, Unesco, PatrimônioEm 2011, durante as escavações realizadas como parte das obras de revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro, foram descobertos os dois ancoradouros sobrepostos - Valongo e Imperatriz -, e uma grande quantidade de objetos (partes de calçados, botões feitos com ossos, colares, anéis e pulseiras em piaçava) e de amuletos de culto originários do Congo, de Angola e Moçambique. Segundo o antropólogo Milton Duran, suas ruínas são os únicos vestígios materiais da chegada dos africanos nas Américas.

Cais, História, Rio de Janeiro, Escravidão, Unesco, PatrimônioO Valongo possui cerca de 350 metros de comprimento, vai da Rua Coelho e Castro até a Sacadura (mapa). Entre 1850 e 1920, a área em torno do antigo cais tornou-se um espaço ocupado por negros escravizados ou libertos de diversas nações - área que Heitor dos Prazeres chamou de Pequena África. Esta foi a criação das favelas, onde os segregados sociais se reuniam em uma espécie de quilombo urbano. Foi nessa mesma área central da cidade que o samba foi sendo lapidado até se transformar no gênero musical conhecido hoje. Herança uma profunda desigualdade social entre brancos e negros e um racismo estrutural nem sempre reconhecido.

Recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO em 9 de julho de 2017 por ser o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados nas Américas.

Sendo assim classificado como: 

• Local de memória e sofrimento - como o Memorial de Hiroshima (Japão), e o Campo de Concentração de Auschwitz (Polônia).


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A poucos quarteirões do cais, nos números 32, 34 e 36 da Rua Pedro Ernesto, em um casarão do século XVIII (mapa), está um cemitério onde milhares de escravos foram enterrados. Calcula-se que foram enterrados entre 20.000 e 30.000 pessoas. Este local de enterro de escravos substituiu o Largo de Santa Rita, situado em frente à Igreja de Santa Rita de Cássia, no Centro, onde, segundo os arquivos da igreja, a média de enterros foi superior a mil por ano.

Alguns relatos da época descrevem o cenário horripilante deste local:

Dois negros conduzem o morto para a sepultura, em uma padiola ou rede presa a comprida vara, atiram-no ao buraco, como a um cão morto, põem um pouco de terra solta em cima e então, se por causa da pouco profundidade da cova alguma parte do corpo fica descoberta, socam-na com pesados tocos de madeira, de forma que acaba formando-se um horrível mingau de terra, sangue e excrementos.” Carl Seidler  - Dez anos no Brasil.

O mordomo da Santa Casa de Misericórdia, roga aos Srs que mandam escravos novos para o Cemitério, examinem primeiramente se estão mortos. Porque tem se encontrado alguns ainda com vida. – O Mordomo Joaquim José D’Oliveira Lima.” Diário do Rio de Janeiro – 12 de maio de 1829.

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No mercado negreiro do Valongo, eram trazidos todos os escravos que chegavam de navio e eram denominados como Pretos Novos. Nessas viagens, uma porcentagem significativa de cativos morria devido às condições desumanas da travessia do Atlântico e eram enterrados dentro de barracões ou nos arredores do mercado.

No meio deste espaço (de 50 braças) havia um monte de terra da qual, aqui e acolá, saíam restos de cadáveres descobertos pela chuva”. G. W. Freireyss (descrição do local feita pelo viajante alemão que foi testemunha ocular do cemitério).

Em 1830, o mercado foi fechado, em parte pelo inconveniente das atividades e pelo mau cheiro, que eram objeto de reclamações por parte dos moradores locais, e também como uma forma de as autoridades locais mostrarem, aos ingleses, que estavam respeitando o tratado de extinção do tráfico imposto pela Inglaterra e assinado em 1827. Na realidade, porém, a atividade só mudou de endereço. Este acontecimento deu origem a uma expressão usada no Brasil para indicar algo que é feito “de mentira”, só para manter as aparências; pois todos sabiam que tais regras não eram cumpridas e foram aprovadas só “para inglês ver”.

O achado arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos ocorreu no dia 8 de janeiro de 1996, quando um casal reformava sua casa na área e se deparou com ossos e crânios. Após seis meses de escavação sistemática, foram encontradas 28 ossadas, com predomínio do sexo masculino entre 18 a 25 anos.

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Em 2012, a fim de proteger os achados arqueológicos do local, foram instaladas pirâmides de vidro sobre as duas aberturas que deixam visíveis as ossadas dos escravos ali enterrados. Cinco anos depois, em 2017, o primeiro esqueleto inteiro foi encontrado no local. A ossada é de uma mulher, batizada de Josefina Bakhita, que morreu com aproximadamente 20 anos no início do século XIX.

Atualmente, o casarão funciona como centro cultural, cuja finalidade é resgatar a história da cultura africana na cidade através da divulgação cultural e artística. 

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No circulo Laranja - Região da Gamboa / no círculo azul - Cemitério dos Pretos Novos / no círculo em vermelho - Cais do Valongo / no círculo mais escuro - Antigo centro Praia do Peixe (praça 15)

Assista os vídeos do canal Altas Histórias no Youtube e saiba mais desta parte de nossa história.

* Altas histórias – Escravidão - parte 2 



Navio Negreiro - Poema de Castro Alves




"MEU DEUS! MEU DEUS! QUE HORROR!!!" - trecho do poema


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Fontes:
Altas histórias - Youtube
atlas.fgv.br
brasildefato.com.br
diariodorio.com
educacao.globo.com
enciclopedia.itaucultural.org.br
monarquia.org.br
mundoeducacao.bol.uol.com.br
museunacional.ufrj.br
pretosnovos.com.br
unesco.org
wikipedia.org

domingo, 1 de dezembro de 2019

Qubit é esse?


A Computação quântica é o novo limite?

Como já dissemos aqui no Blog OExternauta, a nanotecnologia estará presente em nossas vidas em um futuro próximo.

O QuBit é o futuro de tudo que conhecemos.

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Válvula Triodo utilizada em 1906
Podemos dizer que as primeiras experiências eletrônicas ocorreram com Thomas Edson quando este inventou a lâmpada incandescente; mas ela apenas reagia à eletricidade que passava através do filamento. Mas, foi em 1905, que o físico inglês J.A. Fleming inventou a válvula eletrônica, o primeiro elemento eletrônico de uso prático que criou o princípio daquilo que conhecemos hoje como tecnologia. O conceito de eletrônica é a capacidade de controlar a intensidade da corrente elétrica para obter resultados esperados, diferentemente do que acontece nos circuitos elétricos, utilizando para isto, fenômenos eletrônicos.

Isto foi um salto gigantesco para a humanidade.

Depois, 16 de dezembro de 1947, Brattain e Bardeen, cientistas do Bell Telephone Laboratories inventaram o transistor. O anúncio da descoberta do transistor, contudo, foi adiado até o dia 30 de junho de 1948. Estes seis meses foram gastos pesquisando-se mais sobre o dispositivo até ser demonstrado para a imprensa nas instalações do Bell Labs em Nova York. Isso abriu caminho para outro grande salto tecnológico: a invenção do circuito integrado, em 1958, por Jack S. Kilby da Texas Instruments, e Robert N. Noyce da Fairchild Semiconductor.

Life, 1954, John Bardeen, William Shockley, Walter Brattain, revista, Transistor
Foto da revista Life, de 1954. Da esquerda para a direita, John Bardeen, William Shockley e Walter Brattain

















Estava tudo pronto para a criação do microprocessador!

A miniaturização extrema de muitos circuitos elétricos pode ser alcançada fazendo-se resistores, capacitores, transistores e diodos em uma única lâmina de silício” (Kirby)

Jack St. Claire Kilby
Apesar disto, somente na década de 1970 que a tecnologia MOS (metal-oxide semiconductor) atingiu seu auge, seguida logo pela CMOS (complementary metal-oxide semiconductor), a tecnologia predominante nos chips de hoje. Conceitualmente o processador 4004, do engenheiro da Intel, MarcianHoff (também chamado de Ted Hoff), foi o primeiro a ser desenvolvido e tinha velocidade de clock inicial de apenas 740 kHz (740 mil cálculos por segundo). A RCA introduziu o primeiro microprocessador CMOS, o 1802 com velocidade de 3.2 MHz (3,2 milhões de cálculos por segundo), em 1974.

Hoje, IBM Summit, considerado o supercomputador mais rápido do mundo, é capaz de realizar 200 quatrilhões de cálculos por segundo (200 petaflops), utiliza 37 mil processadores e ocupa mais de 520 metros quadrados do Laboratório Nacional de Oak Ridge, instituto de pesquisa onde foi hospedada nos Estados Unidos.

Para saber um pouco mais desta evolução, veja aqui a postagem sobre a Historia do computador.

Agora sim, chegamos à era da Computação Quântica... ou quase.

A física quântica é a teoria que estuda os sistemas físicos cujas dimensões são próximas ou abaixo da escala atômica, tais como moléculas, átomos, elétrons, prótons e de outras partículas subatômicas. 

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Max Planck
Essa teoria surgiu durante os primeiros anos do século XX, sendo o físico Max Planck (1858 – 1947), criador da “constante de Planck” (E = h.v), um dos pioneiros a desenvolver os seus princípios básicos. No entanto, foi Albert Einstein que batizou a equação de Planck de quantum (palavra latina que significa “quantidade”) pela primeira vez. Vários cientistas e físicos contribuíram para o desenvolvimento da teoria física quântica, como: Werner Heisenberg (1901 – 1976), Louis de Broglie (1892 – 1987), Niels Bohr (1885 – 1962), Erwin Schrödinger (1887 – 1961), Max Born (1882 – 1970), John von Neumann (1903 – 1957), Richard Feynman (1918 – 1988), Wolfgang Pauli (1900 – 1958), entre outros.

Há várias interpretações da física quântica (ou mecânica quântica) que tentam responder a questão: Sobre o que trata exatamente a mecânica quântica? Destacam-se: Interpretação de Copenhaga, Interpretação de Bohm, Interpretação de muitos mundos, Histórias consistentes, Consciência causa colapso, Teorias de colapso objetivo, Lógica quântica, Interpretação transacional, Interpretação conjunta e Interpretação estocástica. 

Mas, oque realmente importa nesta postejem é que: no dia 23 de Outubro de 2019, a Google declarou que atingiu a supremacia quântica com o computador batizado Sycamore, desenvolvido em parceria com a NASA. Este equipamento gigantesco demorou 3,3 minutos para realizar cálculos que levariam 10.000 anos no Summit.

Isso mesmo, o supercomputador demoraria 10.000 anos para fazer o cálculo.


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Processador Quântico Sycamore e sua montagem
Muitos cientistas já criticaram esta declaração. Eles acreditam que o supercomputador da IBM levaria 2,5 dias para executar o cálculo, e que o algoritmo clássico correto ainda não foi encontrado, dentre outras coisas. Esta declaração pode ser um marco na história humana, assim como o satélite Russo Sputnik marcou o inicio da era espacial.

Uma unidade de informação quântica ou bit quântico é chamado de qubit, às vezes qbit; e ainda não se sabe qual real velocidade do Sycamore. Estando o cálculo exagerado ou não, a possibilidade de “programação atômica” é uma realidade plausível. Veja na imagem abaixo como isso é possível.

Hidrogênio, quantica, fisica, onda, elétron, função
Na imagem, as funções de onda do elétron em um átomo de hidrogênio em diferentes níveis de energia. A mecânica quântica não pode prever a localização exata de uma partícula no espaço, apenas a probabilidade de encontrá-la em locais diferentes. As áreas mais brilhantes representam uma maior probabilidade de encontrar o elétron. Assim que for possível provocar e identificar estes padrões, podemos utilizá-los para realizar cálculos complexos.

Os computadores atuais possuem limitações, como por exemplo na área de Inteligência Artificial (IA), onde não existem computadores com potência ou velocidade de processamento suficiente para suportar uma IA avançada. este problema seria facilmente resolvido com o advento da supremacia quântica.

No vídeo abaixo há uma breve explicação de como isso é possível.



E finalmente, teremos a integração da tecnologia Quântica com tudo que conhecemos. Aparelhos eletrônicos (Serão aparelhos quânticos?), roupas (poderão ajustar o tamanho e até se limpar sozinha), moveis (que adquirirão outras formas e cores), veículos (que serão autônomos), residências e indústrias, só para citar algumas das possibilidades.

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Tricorder do Dr. McCoy, da série de televisão Star Trek
Na medicina, os avanços poderão ser mais inacreditáveis ainda, como os scanners dos filmes de ficção.

Há ainda quem acredite que esta tecnologia estará conectada ao nosso cérebro, lendo nossos pensamentos, aposentando os comandos manuais e até os comandos de voz. Jogos e programas de realidade virtual alcançarão um nível que será difícil distinguir entre estes ambiente se a realidade.

A velocidade de processamento mudará o mundo virtual que conhecemos hoje; a internet e os negócios financeiros serão diretamente afetados.

Muitos protótipos de computadores quânticos já foram testados em laboratórios de todo o mundo, porém o seu desenvolvimento ainda dependente de muitas pesquisas e investimentos. No Brasil há diversos núcleos de pesquisas na área da computação quântica, como o grupo no LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) e grupos pertencentes as instituições de ensino superiores, com destaque para universidades do Rio de Janeiro e da Paraíba.

Não se assuste, ao que parece, esta realidade não chegará nesta nossa geração.



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Fontes:
infoescola.com






domingo, 20 de outubro de 2019

Robertinho do Recife



Já falei aqui das guitarras, e agora falarei dos guitarristas, ao menos de alguns.

Minha lista de grandes guitarristas nacionais ficaria imensa devido ao grande número de talentos na história tupiniquim. Começaria com os grandes Pepeu Gomes, Robertinho recife, Kiko Loureiro, Nuno Mindelis, Edu Ardanuy, Mozart Mello e Andreas Kisser que marcam presença em todas as listas de respeito. Correndo por fora (por não serem unanimidades) estão: Edgard scandurra, Wander Taffo, Toninho Horta, Rafael Bittencourt, Herbert Vianna, Roberto Frejat e Carlos Tomati. Todos eles reconhecidíssimos por quem curte a boa e velha Guita. Sem esquecer de nomes não tão conhecidos, mas que são virtuosos em suas bandas; Sergio dias (Mutantes), Juninho Afram (Oficina G3), Jão (Ratos do Porão), Faíska (Casa das Máquinas), Renato Barros (Renato e Seus Blue Caps), Luiz Carlini (Tutti Frutti e Camisa de Vênus), Kiko Pereira (Roupa Nova), Lucio maia (Nação Zumbi) e  Moyses Kolesne (Krisiun). Guitarristaas com trabalhos solo como Lanny Gordin, André Christovam e Hélio Delmiro;  além dos jovens talentos Mateus Asato e Lari Basilio (única mulher da lista!).

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Tenho certeza que faltou gente boa aí!

Como falar de todos estes nomes seria tarefa impossível, escolhi o guitarrista que, na minha humilde opinião, é fora da curva... por quê?

Carlos Roberto Cavalcanti de Albuquerque nasceu em Recife em 5 de novembro de 1953. Aos 10 anos foi atropelado e ficou 10 meses imobilizado, e aos doze anos, já considerado virtuose, apresentava-se tocando até com os pés. 

No final dos anos 1960, acompanhou alguns ídolos da Jovem Guarda, e em 1971 foi para os Estados Unidos tentar carreira. Tinha 17 anos, chegou a ser preso pelo FBI; sofreu um acidente de carro a caminho do Memphis e ficou internado 1 mês devido a uma paralisia facial.

 "Então, é por isso que eu sou metal. Meu braço está cheio de pinos. O coração, cheio de stents . Mas vou levando. Depois de tanta loucura de vida, de tanto esmeril, a gente está aí de volta" - Robertinho para O Globo 2014.

Logo viciou em drogas e, depois de muito ácido e heroína, retornou para Recife;  quando chegou a negar um convite para tocar no Chicago; e isso foi na década de 1970!!

Fagner o viu tocando em uma igreja e levou-o para o Rio de janeiro onde tornou-se músico de estúdio.





Em 26 de abril de 1985, Robertinho fundou a banda  MetalMania; abriu um show para a banda norte-americana Quiet Riot em São Paulo, Rio de Janeiro e em Porto Alegre.

O auge de sua carreira foi nos anos 70 e 80 e depois se dedicou a produzir artisticamente.

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Como guitarrista, Robertinho de Recife já participou em shows ou gravou com vários artistas internacionais, tais como: George Martin, Watchpocket, Nina Hagen, Stanley Clarke, Peter Tosh, Andy Summers (The Police), Stewart Copeland (The Police), Steve Cropper, Miami Sound Machine, Phil Collen (Def Leppard), John Lee Hooker, Simon Kirke (Free), Bonnie Ratt, Arto Lindsay, Taj Mahal, Gilles Martin, Dr. John and the Night Tripper e Candy Shoes String; e dividiu o palco com várias atrações internacionais como: Deep Purple, Judas Priest, Accept, e fez uma participação especial com o Manowar, no Monster´s of Rock 2015 (veja na entrevista no final do post), em São Paulo.




Apesar de muitos músicos terem sidos inspirados por ele, ainda há quem não reconheça suas qualidades; "eu não sou uma unanimidade e também não gostaria de ser, eu sou humano, pô. Ser uma unanimidade seria algo muito difícil... E sabe porque? A cada dia estão aparecendo mais músicos bons tocando, cara, eu fico impressionado como tem guitarrista bom no metal. Claro que nos outros estilos também tem, mas a gente vê a evolução da guitarra muito mais positiva no metal" disse, em entrevista em 2016. Veja esta entrevista para o programa A Ilha do Metal.






Você pode saber as novidades sobre Robertinho na página oficial da FanPage dele no facebook.

Ele reuniu técnicas estilísticas do rock, jazz e funk, e contribuiu para a formação de uma “escola” brasileira de guitarra, que também inclui instrumentos acústicos, como o violão e o bandolim. Não aceita o rótulo “guitarra brasileira”, defendendo a multiplicidade musical para além de fronteiras nacionalistas, se diz um amante da música acima de tudo.



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Um cara cheio de histórias que ficará para história como um dos maiores guitarristas Brasileiro de todos os tempos!

Formação atual da Banda MetalMania: Lucky Leminski (Vocal), Jully Lee (bateria), Robertihno de Recife, Isa Nielsen (guitarra, Detonator) e Rob Khalil (baixo).


















Baixe “Metal Mania” de 1984, aqui: http://www.mediafire.com/download.php?qgsj1a6ez8izb82.



BONUS - Monsters Of Metal (Video Clipe)




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fontes:

ailhadometal.com/
dicionariompb.com.br
discogs.com midiorama.com
metalrevolution.net
oglobo.globo.com
spirit-of-metal.com


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Poema negro


Poeta, poesia, busto, rosto, poema, livro

Eu, livro, primeira, edição, 1912, poesia, poemaAugusto dos Anjos escreveu apenas um livro, através do qual se imortalizou. Sua publicação ocorreu em 1912, época em que a Paraíba, o Brasil, o mundo estava atravessando um período de mudança, de revolução, e transformação. Poeta ímpar, que ainda nos tempos atuais, com a complexa personalidade do poeta do "Eu", invade a cátedra literária e transborda de significado, ao mesmo tempo em que representa um "grito de protesto".

Neste poema, a morte é representada pela imagem da mulher devoradora e obscena, e o autor discorre entre os momentos de "puro terror" e a espiritualidade inefável, ora distantes, ora misturados em um só turbilhão. 

Em uma visão mais literária, sua obra leva a linguagem ao limite mais extremo da lingua, em uma distorcão métrica dissonante dos versos.

Sem mais;





Poema negro


 A Santos Neto

 

Para iludir minha desgraça, estudo.

Intimamente sei que não me iludo.

Para onde vou (o mundo inteiro o nota)

Nos meus olhares fúnebres, carrego

A indiferença estúpida de um cego

E o ar indolente de um chinês idiota! 

 

A passagem dos séculos me assombra.

Para onde irá correndo minha sombra

Nesse cavalo de eletricidade?!

Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:

— Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?

E parece-me um sonho a realidade. 

 

Em vão com o grito do meu peito impreco!

Dos brados meus ouvindo apenas o eco,

Eu torço os braços numa angústia douda

E muita vez, à meia-noite, rio

Sinistramente, vendo o verme frio

Que há de comer a minha carne toda! 

 

É a Morte — esta carnívora assanhada —

Serpente má de língua envenenada

Que tudo que acha no caminho, come...

— Faminta e atra mulher que, a 1 de janeiro,

Sai para assassinar o mundo inteiro,

E o mundo inteiro não lhe mata a fome! 

 

Nesta sombria análise das cousas,

Corro. Arranco os cadáveres das lousas

E as suas partes podres examino. . .

Mas de repente, ouvindo um grande estrondo,

Na podridão daquele embrulho hediondo

Reconheço assombrado o meu Destino! 

 

Surpreendo-me, sozinho, numa cova.

Então meu desvario se renova...

Como que, abrindo todos os jazigos,

A Morte, em trajos pretos e amarelos,

Levanta contra mim grandes cutelos

E as baionetas dos dragões antigos! 

 

E quando vi que aquilo vinha vindo

Eu fui caindo como um sol caindo

De declínio em declínio; e de declínio

Em declínio, como a gula de uma fera,

Quis ver o que era, e quando vi o que era,

Vi que era pó, vi que era esterquilínio! 

 

Chegou a tua vez, oh! Natureza!

Eu desafio agora essa grandeza,

Perante a qual meus olhos se extasiam.

Eu desafio, desta cova escura,

No histerismo danado da tortura

Todos os monstros que os teus peitos criam. 

 

Tu não és minha mãe, velha nefasta!

Com o teu chicote frio de madrasta

Tu me açoitaste vinte e duas vezes...

Por tua causa apodreci nas cruzes,

Em que pregas os filhos que produzes

Durante os desgraçados nove meses! 

 

Semeadora terrível de defuntos,

Contra a agressão dos teus contrastes juntos

A besta, que em mim dorme, acorda em berros

Acorda, e após gritar a última injúria,

Chocalha os dentes com medonha fúria

Como se fosse o atrito de dois ferros! 

 

Pois bem! Chegou minha hora de vingança.

Tu mataste o meu tempo de criança

E de segunda-feira até domingo,

Amarrado no horror de tua rede,

Deste-me fogo quando eu tinha sede...

Deixa-te estar, canalha, que eu me vingo! 

 

Súbito outra visão negra me espanta!

Estou em Roma. É Sexta-feira Santa.

A treva invade o obscuro orbe terrestre.

No Vaticano, em grupos prosternados,

Com as longas fardas rubras, os soldados

Guardam o corpo do Divino Mestre. 

 

Como as estalactites da caverna,

Cai no silêncio da Cidade Eterna

A água da chuva em largos fios grossos...

De Jesus Cristo resta unicamente

Um esqueleto; e a gente, vendo-o, a gente

Sente vontade de abraçar-lhe os ossos! 

 

Não há ninguém na estrada da Ripetta.

Dentro da Igreja de São Pedro, quieta,

As luzes funerais arquejam fracas...

O vento entoa cânticos de morte.

Roma estremece! Além, num rumor forte,

Recomeça o barulho das matracas. 

 

A desagregação da minha idéia

Aumenta. Como as chagas da morféia

O medo, o desalento e o desconforto

Paralisam-se os círculos motores.

Na Eternidade, os ventos gemedores

Estão dizendo que Jesus é morto! 

 

Não! Jesus não morreu! Vive na serra

Da Borborema, no ar de minha terra,

Na molécula e no átomo... Resume

A espiritualidade da matéria

E ele é que embala o corpo da miséria

E faz da cloaca uma urna de perfume. 

 

Na agonia de tantos pesadelos

Uma dor bruta puxa-me os cabelos,

Desperto. É tão vazia a minha vida!

No pensamento desconexo e falho

Trago as cartas confusas de um baralho

E um pedaço de cera derretida! 

 

Dorme a casa. O céu dorme. A árvore dorme.

Eu, somente eu, com a minha dor enorme

Os olhos ensangüento na vigília!

E observo, enquanto o horror me corta a fala,

O aspecto sepulcral da austera sala

E a impassibilidade da mobília. 

 

Meu coração, como um cristal, se quebre

estátua, poeta, homenagem, memoria, museu O termômetro negue minha febre,

Torne-se gelo o sangue que me abrasa,

E eu me converta na cegonha triste

Que das ruínas duma casa assiste

Ao desmoronamento de outra casa! 

 

Ao terminar este sentido poema

Onde vazei a minha dor suprema

Tenho os olhos em lágrimas imersos...

Rola-me na cabeça o cérebro oco.

Por ventura, meu Deus, estarei louco?!

Daqui por diante não farei mais versos.

 

 Augusto dos Anjos 

 

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Fontes

https://www.memorialaugustodosanjos.com/
https://contobrasileiro.com.br
https://escolaeducacao.com.br
www.jornaldepoesia.jor.br