O Externauta: 29/09/2019

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Eu não sou ninguém

O poeta Ivan Teorilang disse: “Com o avanço da idade, estaremos ganhando sabedorias, experiências e dúvidas, mas perdendo, certezas, convicções e arrogância”

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As manifestações de soberba, tão presentes nas redes sociais, podem ser individuais ou grupais como a xenofobia, o racismo, corporativismo, elitismo, etc.

Partindo do orgulho (Aqui representado pelo sentimento egoísta, excesso de amor-próprio e/ou arrogância) e da pretensão de superioridade, a soberba é uma supervalorização do eu e está evidente na vida moderna em todos os círculos sociais. A frase que exemplifica melhor o que é soberba é: “você sabe com quem está falando?”

“Há uma linha tênue entre o orgulho e a soberba, a mesma que separa o excêntrico do ridículo, a faceirice da banalidade ou o cômico do patético. A grande sabedoria consiste em transitar por essa linha sem nos inclinarmos para nenhum dos lados.” Allan Percy

Fingir ser o que não é parece ser a típica manifestação de soberba no Facebook, Instagram, e outras mídias. Não me refiro somente a bens materiais (viagens, festas, roles), ou títulos (alguns até "criam" certificados), nem mesmo por expor que é o melhor no que faz, mas em sua conduta moral, intelectual e psíquica. A soberba é portanto a cultura do "ego". Eis aí o grande problema: qualquer um que age desta forma deveria, por simples consideração dos fatos, procurar ajuda profissional. Ah, triste mundo de aparência onde o conteúdo pouco importa.

Ocupando o nível mais alto da Pirâmide de Maslow, este desvio social revela o mais inferior condicionamento humano: a mentira auto-infligida (mecanismo primário de fuga mental de não aceitação).

Enquanto o invejoso guarda tal sentimento para si (nem sempre, né?!?!?), o soberbo tende a se mostrar, querendo despertar a inveja e a admiração dos outros. Esta atitude, segundo Sigmund Freud “...em nossa constituição psíquica, as forças que impulsionam nossas ações em busca do prazer próprio, egoísta, em detrimento do outro...”. Ou seja, pura carência, bebê.

O soberbo quer superar sempre os outros, mas quando não atinge este objetivo, procura depreciar os outros de modo a tornar o sucesso alheio cousa de pouca importância. Achando que é mais importante que outras pessoas, o soberbo adora mostrar que é melhor ou superior aos demais e ridiculariza quem ele considera “inferior”.

Ainda nos primeiros anos de vida social, geralmente em ambiente escolar, é evidenciada a transgressão das regras, desinteresse nos estudos e ridicularização do professor como mostras da soberba infantil. Sendo assim, a soma de duas patologias: Soberba e infantilidade; visto que este comportamento estende-se por anos da vida acadêmica. Dr. Enéas Carneiro já havia detectado este fenômeno quando declarou: “vivemos era do achismo, todos acham alguma coisa, ninguém sabe nada!”, seja por preguiça ou presunção.

Ao que parece, os seres humanos (leia-se Brasileiros) nascidos após a reintrodução da democracia no Brasil (1984, com o movimento Diretas Já) nascem com a pré-disposição de informar antes mesmo de aprender; acreditava Rubem Alves; esquecendo que o aprendizado deve ser constante, e que o mundo muda e evolui em uma velocidade assombrosa.

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Algumas pessoas se valem da admiração de outrem para impor sua pseudo-superioridade, criando a mais comum das relações humanas atuais: os relacionamentos tóxicos (aqueles em que um constrói e o outro destrói). Relacionamento em que suas escolhas não são respeitadas, o assunto é sempre centrado no outro, e/ou desperta ciúmes quando você está em outras companhias; é sinal claro de toxidade. Corra!

A soberba parece inofensiva, e até cômica, mas pode ser a base de muito outros problemas sociais. A falta de solidariedade, de compaixão e empatia são facetas do comportamento narcisista e doentio das pessoas que perdem o controle sobre sua autoestima.

É óbvio que este comportamento gera uma série de embates. Segundo a psicóloga Silvia Malamud, especialista em reprocessamento cerebral, "qualquer pessoa pode agir assim, mas o problema afeta mais comumente quem tem baixa autoestima, pouco autoconhecimento, passado de abuso ou ainda uma visão distorcida do que é afeto."

Daí para uma atitude mais agressiva, basta um suspiro! Diz a psicóloga Pamela Magalhães, especialista em relacionamentos, que: "As pessoas vão se acostumando ao clima hostil e encontram formas de se adaptar ao inadaptável, sem se dar conta do quanto essa relação pode ser ruim para a saúde". E, por incrível que pareça, desde 6000 AC já haviam recomendações quanto a isso:

“Da soberba só provém a contenda, mas com os que se aconselham se acha a sabedoria.” (Provérbios 13.10).

"Tens visto um homem que é sábio aos seus próprios olhos? Maior esperança há no tolo do que nele" (Provérbios 26.12).

"... O conhecimento incha, mas o amor edifica. Se alguém julga saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber" (1 Coríntios 8.1-2).

E, ainda assim, continuamos cercados de arrogância por todos os lados. Políticos, ricos, doutores... todos, tão absortos que não resta espaço para a “humanidade” em nós.

Há tanta prepotência que o verme nos dá uma aula de realidade: Come a todos, sem distinção. O verme é o ser mais igualitário dos seres; que em sua superioridade moral, está pouco se lixando para “quem você pensa que é”.

Abraço