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quarta-feira, 1 de abril de 2020

O Dia da Mentira

O Dia da Mentira

Uma mentirinha pode ser aquele elogio não tão sincero, ou dizer que tem compromisso para não aceitar um convite. Mentir uma vez ou outra faz parte do comportamento humano, é normal e todos nós fazemos, em maior ou menor grau. Será? 

Mentir é querer enganar o outro mesmo que dizendo a verdade. Mas, há quem diga que não mente quem acredita naquilo que diz, mesmo que isto seja falso. Desde brincadeiras para entreter até a Mitomania (mentira patológica ou pseudologia fantástica) existem diversos níveis de mentiras. 

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Conforme a citação: 

“Quem enuncia um fato que lhe parece digno de crença ou acerca do qual formava opinião de que é verdadeiro, não mente, mesmo que o fato seja falso", de Santo Agostinho (Le mensonge (De mendacio), Primeira parte, 1ª seção, 111, 3, trad. fr. G. Combes, em Oeuvres de Saint Augustin, Paris, 1937-1948, T. 2, p. 237); 

para que haja uma mentira é exigida consciência e intenção. “Do contrário, teríamos de considerar que a pessoa estaria fazendo um relato não mentiroso, mas sim delirante”, destaca o psiquiatra Deyvis Rocha, Coordenador da Equipe de Transtornos Psicóticos do AME Psiquiatria. 

Jean-Jacques Rousseau afirma que é raro que uma mentira seja completamente inocente. Uns mentem em busca vantagem própria ou de outrem, o que constitui fraude; outros mentem para prejudicar, que é considerada a pior espécie de mentira; a calúnia. 

Considera-se que mentir é contra os padrões morais e é tido como um "pecado" em muitas religiões. As tradições éticas e os filósofos dividem opiniões quanto a se uma mentira é imperdoável ou em alguma situação ela é permissível – Platão disse sim, enquanto Aristóteles, Santo Agostinho e Kant disseram não. 

Kant vincula questões de ordem moral, sendo a ética e o direito ramos desta. O problema é saber se a mentira é uma questão ética, jurídica ou um problema moral, que engloba tanto a um quanto ao outro. (Kant e a mentira - 2015 - Francisco Eliandro Souza do Nascimento / Jorge Luis Carneiro Lopes) 

Teólogo e filósofo, Tomás de Aquino diz que mentir é sempre errado, mas apenas as mentiras para fazer mal são as consideradas pecados mortais, e classifica a mentira em 3 tipos: 

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1- a viciosa: visa enganar por um fim vil; 

2- a oficiosa, que visa algum bem; 

3- a jocosa, que visa divertir ou entreter. 

Essas duas últimas não muito graves, mas ainda assim moralmente erradas. 

As conhecidas "meia-verdade"; que tem o intuito de desviar o foco de algo que não se quer assumir, pode prejudicar, comprometer e causar mais estragos que uma mentira completa. Mas, qual a fronteira entre “não dizer toda a verdade e mentir?”

Então, é possível mentir a si mesmo? 

Alguns psicólogos defendem que qualquer tipo de mentira está apoiada em relações de má qualidade entre indivíduos ou mesmo em conflito interno de uma só pessoa. Negar a verdade pode ser um refúgio para alguns. 

A mentira regular pode constituir um problema psicológico. Essas pessoas costumam recorrer a um subterfúgio sem nenhum outro estímulo mais do que o de enganar. Outras vezes, a mentira pode estar “justificada” como uma “mentira piedosa” pois consideramos que a verdade causará mais dano do que a mentira. 

informação, mentira, verdade, direçãoO Dicionário Oxford revelou em 2016 que a palavra de maior destaque internacional daquele ano foi o adjetivo “pós-verdade”. O termo foi escolhido porque a frequência de uso daquela expressão havia aumentado 2000% em relação ao ano anterior. Este termo é um neologismo que descreve a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião final a respeito de algum fato ocorrido, os acontecimentos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais, criando uma nova visão para melhor encaixar-se ao cunho social ou pessoal. 

Não há mentiras quando o objetivo é nobre, diria um pensador. 

Na filosofia cristã a mentira foi o instrumento usado pelo diabo para causar a separação entre o ser humano e Deus. Esta alegação é tão importante como fundamento moral que é incluído nos 10 mandamentos; também conhecidos como Decálogo: 

8º mandamento - "Não darás falso testemunho contra o teu próximo" 

Além de várias outras citações em todas as filosofias existentes. 

Vale ressaltar também que no livro de “Provérbios” ou “Provérbios de Salomão” (considerado o homem mais sábio que habitou a terra, segundo a tradição), há um verso que alerta sobre os males da mentira; 

“O homem perverso levanta a contenda,
e o difamador separa os maiores amigos.” (Provérbios 16:28)

planta, inseto, orquídea, enganar, Reforçando a máxima que a mentira se consolida no objetivo do autor. 

Segundo o especialista Deyvis Rocha, na natureza também há vários exemplos. “A camuflagem do camaleão não é um tipo de mentira, de engano? O vírus HIV é um exímio enganador, pois tem a capacidade de realizar mutações que enganam o nosso sistema de defesa e as medicações”. São mentiras por definição, visto que tem por objetivo sobreviver, ou levar vantagem sobre o outro. 

A grande diferença é que na maioria das vezes, os animais só lançam mão de subterfúgios enganosos quando se encontram em situação de perigo e disputa por comida ou parceiro sexual. Este comportamento também é encontrado nas plantas. 

A História de 1º de abril


Há muitas explicações para que o dia 1º de abril esteja relacionado com o Dia da Mentira, e duas são as que possuem alguma comprovação histórica.

dia, semana, mês, ano, mudança, bisextoA primeira delas diz que a brincadeira surgiu na França por volta do século XVI. O Ano Novo era comemorado dia 25 de março, e as festas duravam uma semana e iam até dia 1º de abril, mas com a adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX de França determinou que o ano novo seria comemorado no dia 1 de janeiro. Alguns franceses resistiram à mudança e continuaram a comemorar na data antiga. Pessoas que para ridicularizá-los enviavam presentes esquisitos e convites para festas que não existiam, e essas brincadeiras ficaram conhecidas como plaisanteries. 

A segunda teoria defende que a data seria uma antiga festa romana. “Em Roma já se pregavam trotes durante o equinócio de primavera, também comemorado no dia 1º” diz Joseph Boskin, historiador e professor da Universidade de Boston. Reforça essa teoria a referência mais antiga conhecida ao Dia da Mentira, ela consta nos Contos da Cantuária (1392) do inglês Geoffrey Chaucer. No Conto da Freira do Padre, uma raposa aparece enganando um galo no "32º dia desde que março começou" - isto é, 1º de abril. 

Em países de língua inglesa o dia da mentira chama-se April Fools' Day (Dia dos Tolos de abril) 

Na Galiza (Espanha) o dia é conhecido dia dos enganos. 

Na Itália é chamado de pesce d'aprile, literalmente "peixe de abril". 

No Brasil, começou a ser difundido em Minas Gerais, onde circulou A Mentira (um periódico) lançado no 1º de abril de 1828, com a notícia do falecimento de Dom Pedro, desmentida no dia seguinte. 

No sul do Brasil, onde a vasta maioria fala o dialeto alemão-riograndense (Riograndenser Hunsrückisch), o primeiro de abril se chama der Aprilscherz (a pegadinha de abril), sendo a vítima chamada der Narr no masculino e die Narrin no feminino, ou der Dappes e der Dummkopp (o bobão). Segundo a tradição, além de contar mentiras, existe o costume de se enviar uma pessoa desavisada a cumprir tarefas sem fundamento ou levar informações sem nexo para outrem. 

Personagens famosos

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- Pinocchio, cuja primeira aparição se deu em 1883, no romance As Aventuras de Pinóquio (leia em PDF) escrita por Carlo Collodi, é um boneco de madeira que sonhava em ser um menino de verdade. Esculpido a partir do tronco de uma árvore por um entalhador chamado Gepetto, tinha a peculiaridade de ter seu nariz aumentado toda vez que mentia. Talvez seja o principal personagem identificado com a mentira em toda a história. 

- Barney Stinson, da série How I Met Your Mother, é um mentiroso compulsivo que usa deste artifício para conquistar mulheres. 

- Fletcher Reed, personagem de Jim Carey no longametragem O Mentiroso, passa maus bocados quando fica impossibilitado de mentir por um dia inteiro; 

- Frank Abagnale Junior, interpretado por Leonardo di caprio em Prenda-me Se For Capaz conta a história de um falsário, mestre na arte do disfarce, que vive para praticar golpes milionários, que fazem com que se torne o ladrão de banco mais bem-sucedido da história dos Estados Unidos com apenas 17 anos. 

Chico anysio, Show, personagem, comedia, globo, mentira- Marcelo Nascimento Rocha, é um golpista incapaz de conviver com sua própria identidade, que chega a passar-se por Henrique Constantino, filho do dono de uma grande companhia aérea, durante um Carnaval no Recife e enganar um programa de televisão. Inspirou o filme VIPs, sendo interpretado por Wagner Moura. 

- João grilo, personagem da obra “O auto da compadecida” de Ariano Suassuna, usa de sua infinita astúcia (mentiras) para garantir a sobrevivência, no cinema foi interpretado por Matheus Nachtergaele 

- Pantaleão, personagem icônico de Chico Anysio, Pantaleão Pereira Peixoto é um caçador aposentado que está sempre a contar histórias falsas. 




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Fontes: