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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O almirante negro






A marinha e a escravidão formam a base de nossa nação desde as Naus do “descobrimento”. 



Era uma época conturbada para o estabelecimento de uma nova nação, que, apesar de sua “independência” em 7 de setembro de 1822, vivia uma divergência ideológica que culminou com o golpe em 15 de novembro de 1889, que deu início ao regime republicano no país. 



encouraçado, navio, marinha, João Cândido, almirante negro, revolta da chibataNesta disputa, alguns interesses secundários foram utilizados como instrumento de confronto entre as partes. A campanha abolicionista foi um dos grandes acontecimentos que marcaram o reinado de D. Pedro II. O Brasil era pressionado pela Inglaterra a proibir o tráfico de escravos da África, conquistada em 1850, e no dia 13 de maio de 1888, foi aprovada a Lei Áurea com a assinatura da regente do Brasil, a princesa Isabel. 



Mas, no final de Novembro de 1910, um marinheiro levou 2 garrafas de cachaça à bordo do encouraçado Minas gerais e atacou a cidade do Rio de janeiro, capital do Brasil!! 


Não foi bem assim, rs... 



O contexto




Os marinheiros nacionais, quase todos negros ou mulatos, eram comandados por oficiais brancos e os castigos físicos eram comuns. Apesar de abolidos na Marinha do Brasil um dia após a Proclamação da República, foram restabelecidos no ano seguinte (1890), estando previstas: 



"Para as faltas leves, prisão a ferro na solitária, por um a cinco dias, a pão e água; faltas leves repetidas, idem, por seis dias, no mínimo; faltas graves, vinte e cinco chibatadas, no mínimo.



Quando em contato com as marinhas de países mais desenvolvidos à época, os marinheiros notavam que não eram adotadas esse tipo de punição em suas embarcações. Essa diferença foi particularmente vivida com a estada dos marujos na Inglaterra, em 1909, quando os marinheiros receberam treinamento para para operar os novos navios de guerra: Os encouraçados Minas Gerais e São Paulo. 



Quando retornaram ao Brasil, o marinheiro João Cândido formou clandestinamente um Comitê Geral para reivindicar direitos e melhoria no tratamento dado aos marujos. 



A revolta




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O estopim da revolta foi a punição aplicada ao marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes do Encouraçado Minas Gerais. Existem duas versões para o motivo da punição: 


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Marcelino

1- Marcelino foi punido com chibatadas por subir à bordo do navio com 2 garrafas de cachaça. 



2- Marcelino feriu um cabo com uma navalha e foi punido com duzentos e cinquenta chibatadas na presença da tropa formada e, ao som de tambores. 



Uma semana depois, na noite de 22 de novembro, os marinheiros do Minas Gerais se amotinaram matando quatro oficiais, em seguida o Encouraçado São Paulo (o segundo maior navio da Armada à época) e mais seis embarcações menores ancoradas na baía aderiram ao motim. Liderados por João Cândido, uma declaração foi endereçada ao gabinete do presidente da República e ao Ministério da Guerra com as seguintes reivindicações: 


• fim das chibatadas; 

• aumento de salário; 
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Encouraçado Minas Gerais
• substituição dos oficiais sem perfil para comando; 

• investimento na educação dos marujos; 

• melhoria nas condições de alimentação; 

• melhoria nas condições de trabalho; 

• diminuição da carga horária de trabalho; 

• anistia para os participantes da revolta. 

Constava: 

- "O governo tem que acabar com os castigos corporais, melhorar nossa comida e dar anistia a todos os revoltosos. Senão, a gente bombardeia a cidade, dentro de 12 horas". 

E complementava: 

- "Não queremos a volta da chibata. Isso pedimos ao presidente da República e ao ministro da Marinha. Queremos a resposta já e já. Caso não a tenhamos, bombardearemos as cidades e os navios que não se revoltarem." 



Surpreendidos pela revolta, o governo, o Congresso e a Marinha divergiam quanto à resposta, e a população permaneceu em estado de alerta, uma parte refugiou-se longe da costa enquanto outros se dirigiram à orla para assistir ao bombardeio ameaçado pelos marinheiros.
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Manchete de 24 de Dezembro de 1910


Durante a mesma manhã, os navios rebeldes dispararam contra vários fortes militares localizados em torno da Baía de Guanabara, as bases da Ilha das Cobras e da Ilha de Villegagnon, Niterói, e do palácio presidencial. Uma bomba atingiu uma casa em Castelo, matando duas crianças; embora possa ter havido outras baixas, a morte dessas crianças pesava claramente sobre as consciências dos rebeldes.





A Marinha esboçou um ataque aos revoltosos com dois navios menores, mas foram facilmente derrotados, e estes bombardearam as instalações na ilha das Cobras. 


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João Cândido entrega o comando do Encouraçado
Minas Gerais ao Capitão Pereira Leite 

Pressionado tanto pelas ameaças dos marujos quanto de políticos, o governo de Hermes da Fonseca aceitou os termos propostos e pôs fim aos castigos físicos na Marinha em 26 de novembro de 1910 e o governo declarou aceitar as reivindicações dos amotinados, abolindo os castigos físicos e anistiando os revoltosos que se entregassem. Os marinheiros depuseram as armas e entregaram as embarcações. 
 A promessa do governo não foi cumprida e, no dia 28 de novembro, um decreto dispensou cerca de mil marinheiros por indisciplina. Em 4 de dezembro, quatro marujos foram presos sob a acusação de conspiração e os fuzileiros navais fizeram nova tentativa de motim; desta vez na ilha das Cobras no dia 9 mas, foram bombardeados durante todo o dia, mesmo após hastearem a bandeira branca. Mais de quinhentos revoltosos foram mortos e pouco mais de uma centena, detidos nos calabouços da antiga Fortaleza de São José da Ilha das Cobras. Entre esses detidos, dezoito foram recolhidos à cela n° 5, na véspera do Natal. Este local havia sido pintado com cal virgem, e após vinte e quatro horas, 16 marinheiros haviam morrido por sufocamento, apenas João Cândido e o soldado naval Pau de Lira sobreviveram. Cento e cinco marinheiros foram desterrados para trabalhos forçados nos seringais da Amazônia, tendo sete destes sido fuzilados nessa viagem. 



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João Cândido foi expulso da Marinha sob a acusação de ter favorecido os rebeldes da revolta da ilha das Cobras. O Almirante Negro, como foi chamado pela imprensa, foi internado no Hospital dos Alienados em Abril de 1911, como louco e indigente. Ele e dez companheiros só seriam julgados e absolvidos das acusações dois anos mais tarde, em 1 de dezembro de 1912. 



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Quem foi João Cândido




João Cândido Felisberto nasceu em 24 de junho de 1880 já como homem livre (Lei do Ventre Livre), na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, atual estado do Rio Grande do Sul, no município de Encruzilhada, atual Encruzilhada do Sul. Aos treze anos, em 1894, foi aceito na Companhia de Artífices Militares e Menores Aprendizes no Arsenal de Guerra de Porto Alegre com uma recomendação de atenção especial, escrita por um velho amigo e protetor de Rio Pardo, o então capitão-de-fragata Alexandrino de Alencar. Um ano depois conseguiu transferência para a Escola de Aprendizes Marinheiros de Porto Alegre, e em dezembro do mesmo ano, como grumete para a Marinha do Brasil na capital, a cidade do Rio de Janeiro. 



encouraçado, navio, marinha, enterro, almirante negro, revolta da chibataTornou-se muito admirado pelos companheiros marinheiros, que o indicaram por duas vezes para representar o "Deus Netuno" na travessia sobre a linha do equador, e muito elogiado pelos oficiais por seu bom comportamento e pelas suas habilidades principalmente como timoneiro. 



Líder da Revolta da Chibata, foi discriminado e perseguido pela Marinha. Recolheu-se no município de São João de Meriti, onde morreu de câncer, pobre e esquecido, a 6 de dezembro de 1969, aos 89 anos de idade. 





Outros fatos




· Em 1959 voltou ao Sul do País para ser homenageado, mas a cerimônia foi suspensa por interferência da Marinha do Brasil. 



· Em outubro de 2005, o deputado Elimar Máximo Damasceno (PRONA/SP) apresentou o projeto de lei n. 5874/05, determinando inscrever o nome de João Cândido no "Livro dos Heróis da Pátria". Este projeto foi arquivado porque, pela Lei Brasileira, somente depois de completar 50 anos da morte da pessoa, ela pode ser inscrita como Herói da Pátria, ou seja, no caso de João Cândido, morto em 1969, somente em 2019. 



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· Em 22 de novembro de 2007 foi inaugurada uma estátua em homenagem ao "Almirante Negro", nos jardins do Museu da República, antigo Palácio do Catete, bombardeado durante a revolta. 



· Em 24 de julho de 2008, publicou-se, no Diário Oficial da União, a Lei Nº 11.756 que concedeu anistia ao líder da Revolta da Chibata e a seus companheiros. 


· Em 20 de Novembro de 2008, a estátua foi transferida dos jardins do Palácio do Catete para a Praça XV de Novembro, no centro da cidade do Rio de Janeiro. 

· No dia 7 de maio de 2010, a Transpetro batizou com o nome de "João Cândido" o primeiro navio do Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota). 

· Em Dezembro de 2010, a EBC - Empresa Brasil de Comunicação conclui a produção do documentário "CEM ANOS SEM CHIBATA". 


Música de João Bosco, Mestre sala dos mares:


Há muito tempo nas águas da Guanabara 



O dragão do mar reapareceu 



Na figura de um bravo feiticeiro 



A quem a história não esqueceu 



Conhecido como o navegante negro 

Tinha dignidade de um mestre-sala 

E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas 

Foi saudado no porto 

Pelas mocinhas francesas 

Jovens polacas e por batalhões de mulatas 

Rubras cascatas 

Jorravam das costas dos santos 

Entre cantos e chibatas 

Inundando o coração 

Do pessoal do porão 

Que a exemplo do feiticeiro 

Gritava então 

Glória aos piratas 

Às mulatas 

Às sereias 

Glória à farofa 

À cachaça 

Às baleias 

Glória à todas as lutas inglórias 

Que através da nossa história 

Não esquecemos jamais 

Salve o almirante negro 

Que tem por monumento 


As pedras pisadas do cais 


















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fontes:
cifraclub.com.br
brasilescola.uol.com.br
dichistoriasaude.coc.fiocruz.br
ebiografia.com
fortalezas.org
google.com
historiadomundo.com.br
museuafrobrasil.org.br
naval.com.br 
todamateria.com.br
youtube.com

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