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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Crônica aguda


Sempre fui fascinado por cronicas, talvez por me parecer de uma simplicidade que não existe em outras formas literárias. Aquela narrativa curta, que nos transporta a outro modo de pensar, uma viagem pela mente do escritor; nos leva ao patamar de quase amigos, parece que já somos íntimos.

Nesta cronica de Beth Joy, encontrei a melhor descrição deste estilo maravilhoso.
 
UMA CRÔNICA SOBRE A CRÔNICA

Embora eu aprecie praticamente todos os gêneros literários, tenho preferência pelo gênero narrativo, em especial pela modalidade textual denominada CRÔNICA. Porque essa preferência pela crônica? Simples: porque ela traz consigo a narrativa informal – que é algo que gosto muito. Além do mais, quando bem escrita ela nos transmite um importante ou um interessante recado em poucas palavras, já que em geral é um texto breve. Este gênero permite ao cronista relatar algo ligado à vida cotidiana, algo que seja ou tenha sido notícia recente em jornais, revistas e televisão, por exemplo. Ou seja, a crônica deve relatar fatos verídicos, mas deve vir sempre enriquecida com o “toque pessoal” de quem a está escrevendo – inclusive com suas críticas e até mesmo com um leve toque de humor – o que eu acho fascinante. Às vezes o assunto nem é engraçado, mas quem sabe escrever uma boa crônica sempre encontra uma forma de criticar sutilmente, ironizando. Uma crônica, a meu ver deve ser escrita não a fim de chocar o leitor, mas fazê-lo refletir sobre detalhes ou até mesmo particularidades que ele talvez jamais tivesse pensado antes sobre tal assunto. Ou, após lê-la, talvez passe a ver aquela situação ali descrita e comentada sob um outro prisma, antes nunca imaginado. E o leitor gosta e termina sua leitura sorrindo, porque uma boa crônica geralmente é engraçada, gostosa de ler e com um desfecho surpreendente - que nem sempre é o "final feliz", ou aquele que o leitor esperava ler, mas nem por isso deixa de ser surpreendente.

Beth Joy


 

futebol, enciclopedia, cronica, jornalista
E quando podemos unir literatura e futebol, como fazia o mestre João Saldanha?

O LIMITE DA ESTUPIDEZ


(Nota: Crônica sobre a eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 1982, após a derrota para a Itália por 3 x 2.)
Tantos crimes contra o bom senso, contra o senso comum, não poderiam passar impunemente. O fato de possuirmos jogadores extra-série como Zico, Falcão, Sócrates, Júnior e Cerezo dava a falsa impressão de que éramos superiores em tudo. Mas uma estupidez siderúrgica rondava nosso propósito de ganhar uma Copa, onde quem nos derrotou passou mal com o país do Camarões*. Inventaram uma tática no Brasil abandonando preciosos espaços de campo**. Ora, somente um primarismo infantil e teimoso poderia pensar que os adversários não iriam aproveitar o erro clamoroso.

Veio logo o primeiro jogo, o da União Soviética. Sim, foi uma falha de Valdir Peres e isto é uma outra questão. Mas o time soviético, quando se apertava, jogava a bola para seu lateral-esquerdo que sempre estava livre. Claro, raios que me partam, pois se não tínhamos ninguém ali. Leandro, sempre mal fisicamente, tentava suprir o extrema que não tínhamos.

No jogo da Itália, com mais quinze minutos sairia levado pelas enfermeiras não para um hospital, mas para um cemitério. Estava “morto de cansaço”. E o Cabrini folgava sempre. Era o jogador de desafogo do time italiano. Qualquer problema e bastava jogar a bola por ali. Fizeram o primeiro e, quando precisavam da cera, bastava segurar o jogo pelo lado onde tínhamos apenas o Leandro.

Sim, Zico, Sócrates, Júnior, Cerezo e este estupendo Falcão sempre estiveram muito bem. Mas até carregadores de piano cansam quando fazem esforços acima de sua capacidade. Nosso time, com a tão decantada preparação especial, estava muito cansado no final do jogo. De um lado, existe algo positivo, que é a desmistificação do charlatanismo. Os inventores do futebol que se recusam a ocupar espaços indispensáveis e que não percebem que se joga num retângulo, rigorosamente geométrico e querem jogar enviesado como se as balizas estivessem nos córneres.

Se chegamos a uma posição tão elevada, devemos à qualidade de quatro ou cinco jogadores excepcionais, mas cuja capacidade física também tem limites. A Copa não era difícil de ganhar. Mas a teimosia superou tudo. Culpar Serginho seria um erro. O jogador não tem culpa da teimosia, que ficou clara no primeiro jogo, mas infelizmente não foi aproveitada. Não deixo de assinalar que faltou um pouco de modéstia quando empatamos ontem em dois a dois. Alguém andou rebolando ali e o time italiano, que estava melhor fisicamente do que o nosso, veio para cima e pôde ganhar. Paciência. Mas a estupidez tem um limite de tolerância.

assinatura 
6 de Julho de 1982 




E ainda tem gente que acha que ler e escrever corretamente é besteira... 

Estamos criando um mundo de idiotas!
 

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