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quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Revolta dos Malês

Se você já se interessou pela história da escravidão no Brasil, provavelmente já ouviu falar da Revolta dos Malês. Esse levante, que aconteceu em 1835 na Bahia, foi uma das maiores revoltas de escravizados do Brasil e teve uma importância gigante, não só na resistência à escravidão, mas também na preservação da identidade cultural e religiosa dos africanos que estavam sendo brutalmente oprimidos.

A Revolta dos Malês aconteceu em Salvador, onde a escravidão era uma das maiores da época. A palavra "malê"[1] se referia aos africanos muçulmanos que, por muitos anos, foram trazidos para o Brasil; a maioria deles era originária da região do Sahel, que abrange áreas do oeste da África, como o atual Senegal, Gâmbia, Mali, Nigéria, e outros países


da África Ocidental.
Esses africanos, além de serem na maioria das vezes alfabetizados e muito cultos, tinham uma forte conexão com sua religião muçulmana. Não à toa, muitos malês foram líderes dessa revolta, que aconteceu no início de 1835. Estima-se que cerca de 1.000 a 1.500 malês habitavam a cidade de Salvador. A população de Salvador era estimada em cerca de 200.000 pessoas, composta principalmente por negros e mulatos, cerca de 50% a 60% da população eram escravizados, na época, era a maior cidade do Brasil e um importante centro econômico, cultural e político.

A revolta foi, em parte, uma resposta direta à opressão brutal dos colonizadores e à imposição de um sistema escravagista que controlava a vida dos africanos e seus descendentes. A situação estava insustentável. Além disso, os malês enfrentavam também a proibição de suas práticas religiosas. Naquele tempo, a religião muçulmana era vista com muito preconceito pelos colonizadores. Isso fez com que muitos malês se organizassem secretamente, planejando uma grande revolta para tentar conquistar a liberdade e libertar seus companheiros.

Em janeiro de 1835, os malês, junto com outros escravizados, tomaram as ruas de Salvador em um levante bem organizado. A ideia era tomar a cidade, libertar os escravizados e acabar com o sistema de opressão. O plano, no entanto, foi rapidamente descoberto pelas autoridades, que reagiram com força militar. O confronto foi brutal, e, apesar da coragem dos revoltosos, a revolta foi esmagada em poucos dias. Dizem que aproximadamente 70 a 100 malês foram mortos durante o confronto; mas é óbvio que este número pode ser muito maior.

Após a revolta, muitos dos líderes malês foram capturados e executados. Outros foram severamente punidos, e o governo tomou medidas ainda mais duras contra qualquer tipo de resistência. A vigilância sobre as práticas religiosas aumentou, e o medo de novas revoltas fez com que os governantes tentassem sufocar qualquer possibilidade de organização entre os escravizados. Alguns foram enviados para outras regiões do Brasil, como a Cabo Verde ou para o exílio.

Apesar da repressão, a revolta dos malês não foi em vão. Ela mostrou que os africanos, mesmo nas condições mais extremas, eram capazes de se organizar e lutar por sua liberdade. Foi também uma forma de resistência contra a imposição de uma cultura e religião que tentava apagar as raízes africanas. Mesmo com a derrota, a luta dos malês ficou na história como um símbolo de resistência e de busca por identidade.

A Revolta dos Malês é uma das várias histórias de resistência que foram apagadas por muito tempo da história oficial do Brasil. Ela nos lembra da força e da coragem dos africanos e seus descendentes, que, mesmo diante da escravidão e da opressão, nunca deixaram de lutar por sua liberdade e pela preservação de suas tradições. A revolta também é um marco importante para entender a resistência religiosa, já que o Islã, assim como outras religiões africanas, foi um ponto de união entre os malês.


Hoje, essa história serve de inspiração para a luta contra o racismo e a discriminação. A Revolta dos Malês é um lembrete de que, mesmo nas condições mais adversas, a luta pela liberdade e pela dignidade humana nunca pode ser esquecida.


[1] A palavra malê provém de imale que, no idioma ioruba, significa mulçumano.



Fonte: 

https://diplomatique.org.br/as-crises-na-africa-ocidental/

https://ensinarhistoria.com.br/reino-de-mali/

http://blog.editoracontexto.com.br/as-sociedades-africanas-da-africa-ocidental-historia-e-cultura-afro-brasileira/

https://www.pstu.org.br/a-revolta-dos-males-o-levante-dos-escravos-muculmanos-na-bahia/

https://www.ufrgs.br/cebrafrica/africa-ocidental-e-central/

GATES JR., Henry Louis. Os negros na América Latina. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 73.

GRANATO, Fernando. Bahia de Todos os Negros – As rebeliões escravas do século XIX. Rio de Janeiro: História Real, 2021, pp. 9 e 10.

GRANATO, Fernando. Obra citada, pp. 20 e 21.

GOMES, Flávio dos Santos, LAURIANO, Jaime, SCHWARCZ, Lilia Moritz. Enciclopédia Negra. São Paulo: Companhia das Letras, 2021, p. 470.